Bom dia, acordei a pouco, estou de saco cheio de ter de ficar aqui deitada sem poder sair, sem poder postar em meus blogs, sem poder teclar com a pessoa que amo. Não estou suportando tanta anestesia, cara, nunca dormi tanto, dormir emagrece? Pára Dani, chega de frescura, você tem de engordar, ok, engordar não, mas manter o peso e a saúde já ta bom. Passado o surto anoréxico, continuando, sobre a cirurgia da trompa, não a farei, se eu ficar estéril, não tem problema, adoto e ajudo alguma criança que assim como eu precisa de amor. Fui adotada e adotarei sem problema e com muito amor. Não posso me colocar em novos riscos, já estou com a vida por um fio de cabelo. Fizeram as duas cirurgias que faltavam para reconstruir minha vagina, esperaremos a cicatrização e depois faremos a da trompa, e o enxerto em meus seios. Todo dia 30 tinha festa lá na mansão, as festas eram denominadas “ festa dos cuecas” e iam médicos, advogados, dentistas e tudo mais que se pode imaginar. Até onde sei, tinham uma festa dessas por semana, e em lugares diferentes. Essa mansão era a casa que moravam meus pais adotivos antes de morrerem. Não nasci lá, pois fui adotada com alguns meses, na verdade me jogaram na porta deles. Como em um filme, escolheram a casa de uma família rica que parecia de boa índole. Sim, meus pais eram bons, mas o resto da família... Me deu um nó no peito agora, me deu saudade de meus pais, depois que morreram nunca mais fui abraçada, beijada ou ninada por ninguém. A alguns dias conheci uma pessoa na net, entrei num chat, fiz uma pesquisa por um Nick e a achei, naquele dia estava muito sensível, precisava conversar, pois tinha fugido a poucos dias, estava com medo, havia recebido uma proposta indecente e irrecusável. Conversei com minha anjinha no chat, logo a afinidade foi tanta que a adicionei no MSN. Conversamos um pouco, mostrei a ONG que ajudo para ela, ela foi dormir, desconectei, agradeci á Deus por ter me dado uma amiga, até então a única, e dormi. No dia seguinte não a vi, nem no outro, mas, depois que ela voltou, não paramos mais de nos falar, todos os dias. Nosso carinho e amizade foram crescendo, um dia, comentei que não tinha mãe e sentia falta de uma, ela me perguntou se eu queria uma, eu aceitei, não por aceitar, mas por que já sentia por ela um amor diferente, materno talvez. Antes de ontem eu estava teclando com mamys, já estava com dor quando entrei no msn, mas não quis deitar para não perder a chance de poder conversar com ela. Eu sei que fui teimosa, mas eu precisava dela comigo, mesmo que conectada pelo msn e não pessoalmente. Conversamos duas horas, aí ela foi jantar e voltou 2 horas depois. Nesse meio tempo, passei mal, fiquei zonza com falta de ar e tive um sangramento. Ao voltar, mal consegui teclar com ela, pois começou meu tormento. A pior coisa foi saber que aninha morreu, lutei tanto, fiquei acordada forçando tudo em mim, quando não agüentava de dor, respirava e pensava nela, tentava acalmar mamys, me mantive acordada tbm para que ela não se desesperasse. Sei que ela ficou nervosa e tentou disfarçar para me acalmar, nos falamos ao telefone, minha voz nem saía devido a forte dor que eu sentia. Falar com ela foi bom, não mexeu com meu estado psicológico, no sentido de me acalmar ou consolar, mas me senti amada, e isso me fez bem. Ao desligar, liguei para uma conhecida, outro anjo de Deus na minha vida, ela demorou um pouco para chegar, nesse tempo, lutei ainda mais, pois a dor estava insuportável, mas ela chegou e me socorreu. Eu já estava caída no chão, sem forças nem para respirar. Estava embaixo do PC, com uma cadeira caída perto da minha cabeça, nua, meio enrolada numa toalha, com um travesseiro na barriga e um embaixo da cabeça, para o caso de um desmaio que eu sabia que aconteceria. Pedi a ela que acalmasse mamys e desmaiei. Como já contei, entrei em coma, e esse coma me trouxe algumas seqüelas, temporárias, mas que podem se tornar permanentes. Minhas pernas não reagem mais aos meus comandos e não as sinto. Estou paralítica e isso pode ser eterno, não estou com medo, mas admito, isso vai mexer muito comigo. eu decidi que não irei me focar para o lado psicológico de tudo que está acontecendo, nem nas dores, nem nos medos. Mas temo que quando meu corpo melhorar e minha saúde estejam estáveis, meu psicológico entre em parafuso, pois perdi tudo e terei de recomeçar do zero novamente, sem aninha e em uma cadeira de rodas. Acho que depois de tanta coisa que já me aconteceu aqui, cirurgias, medos, coma, aborto, dores, só agora estou me entregando ao medo, e o deixando começar a me dominar. É fácil para mim me iludir, pensar que tudo dará certo, que vou voltar a andar, e que até adotarei. Só que eu sei que não é bem assim, e temo que por saber que não será fácil, isso se torne mais difícil. Tenho pernas, mas elas não me fazem andar, tenho útero e trompas, mas eles já não geraram vida alguma, tenho celebro mas esse está com problemas, Deus, me leva de vez ou me deixa viver como uma menina normal. Se o senhor está me testando, tudo que aconteceu ainda não foi suficiente? Porque me deixar a beira da morte tantas vezes? Desista, eu não vou morrer, mas porque quer me deixar cheia de seqüelas? Porque testas tanto assim minha força? Lá vou eu ser dopada novamente, farei uma cirurgia no celebro agora, me desejem sorte. Bons sonhos a mim, pois a vida só me reservou pesadelos.

Parte IV
Daniela Serrano
Enviado por Daniela Serrano em 04/12/2009
Código do texto: T1959154
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.