espasmos
o que me faz tão incerta. (?) o que move meus braços, meus olhos, minha fé. o que faz meu coração cheio, esse aperto no peito. essa lágrima. esse choro contido. essas palavras todas presas na garganta. (?) a inventar tempos sem luas. noites escuras. jardins de silêncios e mais. sem portas, pousadas, descansos. como ser nunca e sempre. incertos. aprender a ser. vagar. ventos frestas e janelas. instantes. palavra sem nexo, dias esquecidos de versos. as horas os restos. que palavra é a certa. (?) a água que banha meu sorriso. a água que me faz sentir viva. essa água que me faz. sentir. quem plantou esse cinza no quarto. quem tingiu de noite essas nuvens todas. quem feriu a giz a ponta dos meus olhos. quem rasgou o dentro dos meus escuros a dedo. quem marchei sozinha nesse infinito e fundo que vou me fazendo gota a gota, como água que jorra lenta demais e ainda assim se faz rio. (?) como escureci sozinha e ainda era dia. (?) os retratos enfileirados. barbantes, fios e alecrins. cravados no tempo, dispersos, retilíneos como todas as incertezas são. percorrendo veias, estômagos, pés e umbigos. interrogações.