CARTAS PARA MEU AMIGO II (Para Além do Bem e do Mal)
É verdade amigo.
Não há uma verdade, não há um fim, falta-nos o fim.
Não há um ideal de homem, não há um ideal de moralidade.
Não há um fim para o homem, este não deve ser assim ou assim.
Aqueles que dizem que o homem deve ser assim ou assim não deixam de cair no ridículo.
O homem é uma fatalidade, seu ser é um fado.
O moralista, o “melhorador da humanidade”, que em verdade nunca melhorou nada, tem ele mesmo como padrão do que seja bem e mal.
Ninguém dá as propriedades de um homem, nem Deus, nem seus pais, nem a sociedade, nem ele mesmo. Ninguém é responsável por estar aí e ser o que é.
Que ninguém mais seja responsabilizado, que a culpa seja extirpada do mundo!
Te digo isso, querido amigo, por que na verdade te amo.
Você não vai se submeter a esses moralistas carolas, vai?
Amigo; não há bem e mal.
Esteja sempre para além de bem e mal.
Se alguém discordar de nós ele só fará isso porque há um PADRÂO do que vem a ser bem e mal, não há algo definitivo do que venha a ser bem e mal, mas padrões transitórios, fugidios, fugazes, efêmeros...
Padrão esse que não fui eu nem você quem instituiu.
Se há um bem e um mal é porque alguém disse ser o bem assim e assim e o mal assim e assim. Alguém que tem poder.
É isso mesmo meu amigo.
O bem e o mal são medidos através de relações de poder, não por relações de verdade, esta, na verdade, também nos falta.
O padre, o pastor, o professor, o prefeito, o chefe, seus pais, todos eles te falam sobre bem e mal a partir da perspectiva deles.
Você decidiu o que seria o bem e o mal para você mesmo?
Crie seus valores. Seja senhor você mesmo, sobre o bem e sobre o mal.
Isso é somente a redenção do mundo.
A verdadeira redenção que NENHUM outro promoveu.
OBS: Inspirado no livro Götzen Dämmerung de Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900). Em português, Crepúsculo dos ídolos ou de Como Filosofar com o Martelo.
Escrito em 1888.
Extemporâneo na época, extemporâneo até os dias de hoje.