CARTA A JESSICA (Um novo lugar)

Hoje me dispus a sentar-me ao computador, com muita vontade de escrever. Os sentimentos, porém me fogem. Como falar de emoção sem sentimentos? Alguém já se sentiu assim, querendo dizer um monte de coisas e, pelo contrário, se fecha em si mesmo e não diz absolutamente nada?

Hoje não direi absolutamente nada se for o caso. Não cantarei o lindo dia de sol morno, o sábado tranqüilo.

Vim de uma metrópole, a maior deste nosso Brasil. Ali nos enchemos de ruído e quase somos incapazes de ouvir o silêncio. Muitas vezes o silêncio me apavora. É quando me encontro comigo num turbilhão de sentimentos e me incomoda. Procuro me distrair com uma música, um filme um bate-papo.Inevitável, porém, o encontro desse turbilhão comigo mesmo.É quando recorro à escrita tentando dar ordem às coisas que vão lá dentro de mim: espumas evanescentes que minha parca sensibilidade é capaz de identificar.

Hoje estou pronto a ir para um lugar paradisíaco e pequeno. Em densidade demográfica, claro. E confesso, meus amigos e amigas que estou completamente apavorado.

Tenho um projeto na mente que pretendo implantar em cinco anos. Tudo bem. Nada de falar dele. Apenas o citei porque é algo que alimenta. Porém, é um projeto.

Então o que me inquieta? Aquieta-me, nesses 48 anos de vida urbana, numa metrópole e depois, diga-se, de livre e espontânea vontade, estar a um passo de instalar-me numa praia paradisíaca em uma pequena cidade. Que hábitos terão? Na certeza ficarão de olhos em minhas roupas, sapatos, carro.

Lembro-me quando era bancário e trabalhava de calça jeans, sandálias de couro com duas tiras transversais, camisa social impecável (lavada pela querida mamãe Isaura), cinto de couro,

com fivela de cowboy e uma (acreditem, pasmem!!!) gravata. Coitada dela. Estava fora de ambiente.

O gerente me chamou e disse: olha, de sandália, não é possível, Odair. Não é higiênico. Prontamente,

Desafiei-o a tira os sapatos e eu as sandálias. Jurava que os pés dele estariam mal cheirosos e os meus, de sandália. Por certo não tinham outra pessoa para por em meu lugar. Mantive-me no emprego. E de sandálias, calças jeans e gravata.

Então, amigo e amiga, próximo de um passo que deve se iniciar na próxima terça-feira, quando visitarei a tal casa, onde devo morar, estou eu aqui escrevendo-lhes. É isso, a comunicação, para mim é mais importante do que a relação de exigência que farei do novo lugar. Tem telefone, fica perto de supermercado? Etc., etc.

ABRAÇOS

Odair Perrotti
Enviado por Odair Perrotti em 22/11/2009
Código do texto: T1936995