Cartas de Paris VIII
Querido amigo,
Realizando a viagem imaginária em busca do tempo perdido, estou na Gare de Montparnasse seguindo para Normandia. É quase verão. Hoje é sábado e o trem acaba de chegar.
Plémet é uma cidade típica da França. Não conheço o lugar e também ninguém me conhece. Vim encontrar um velho amigo no Café da estação. Faz muito tempo que não nos vemos. O sol resplandece e a paisagem deslumbra os olhos cansados dessa mulher sonhadora e de tantos anos vividos. Nas jardineiras, os mais variados tipos de flores assinalam a primavera. Enquanto espero, sento e escrevo. Quero registrar tudo como se no futuro nenhuma lembrança permanecesse
Levanto os olhos e vejo-o. Está mais forte, mas a altura disfarça o excesso de peso. Cabelos brancos, pele trigueira. O sorriso e olhar melancólico continuam os mesmos. O abraço forte envolve os nossos corpos num elo de ternura.
Saímos em direção ao carro e seguimos por uma estrada cercada de frondosas arvores. Atravessamos uma singela ponte. Chegamos ao Parque, parando no Restaurante “Lê Chéval Noire”. Conversando ele disse que ali é um dos maiores Haras da região, com famosas pistas de equitação e campos de golf, esportes de sua paixão.
Pelas nossas contas dispúnhamos de seis horas exclusivas para nós. Brindamos com um “calvados” o reencontro de uma amizade que romperá as barreiras do tempo. Depois fomos passear numa charrete, levada por um fogoso cavalo negro e o mais interessante, toda enfeitada de flores naturais. Retomamos à juventude, parecendo crianças deslumbradas.
Na volta, um excelente almoço regado á champanhe nos esperava. A vida nos separou durante muitos anos. Entre nós havia, além do oceano, barreiras intransponíveis por isso fizemos um pacto. Não tentaríamos ser felizes ás custas do infortúnio de outrem.
Respeitamos e o tempo passou. Hoje, um dos lados está livre mas o outro ainda tem amarras, apesar da fragilidade dos laços. Tudo bem, o importante é a amizade e esta será eterna. Retornamos à estação e antes do sol mergulhar na escuridão da noite voltei para Paris. Com um apertado abraço nos despedimos com a promessa de novos reencontros. Paris/Normandia. Junho 2000.