Cartas de Paris VII
Querido amigo,
Quanto tempo sem pisar em solo francês. Ah! Pensei que isto nunca mais iria acontecer. Mas com fé e coragem, retorno a este mundo só meu, onde reencontro todos os sonhos que povoaram a minha vida. Paris como sempre, está linda e radiante. É junho, mês de sol e calor. Pela janela do avião, vi os campos de girassois qual um tapete dourado a me esperar. Sigo em direção a “Ile de la Cite,“ onde habitarei por quinze dias e vivenciarei com a intensidade de quem está com o seu passaporte na terra esgotado. Tenho mais de seis décadas, ainda assim, me atrevo a vir sozinha visitar esta velha e acolhedora amiga de tantos sonhos e esperanças. Todas às vezes que piso neste solo, eu prometo: um dia viverá aqui. Como vês, a esperança continua. Nesta viagem, tenho um propósito: revisitar somente os lugares da minha paixão.
Estou no pequeno e aconchegante hotel “Ville des Artistes”, situado no centro nelvrágico de Montparnasse. Ao redor, tudo é conhecido. Acho que se existissem vidas passadas, eu as teria vivido aqui. Antes de sair para saborear maravilhosas ostras com vinho no “La Coupole”, reservo um passeio para amanhã. Retornarei a Giverny, de onde só voltarei à noite. Quero vivenciar cada pedaço desse lugar cheio de jardins floridos e nostalgia. Vou escolher um ponto para pousar quando os laços da vida se romper. Será que poderei ter este privilégio de Deus? Quem sabe, até hoje ninguém afirmou e provou se isto acontece, mas temos o livre arbítrio para sonhar.
A cidade está colorida de cores e pessoas, são tantas as misturas de raças encontradas que passamos por vários países sem sair do lugar. Caminho sem direção pelas ruas ensolaradas. Vejo pessoas e elas me veem, sem saberem quem é. Acho ótimo. Não preciso festejá-las nem elas a mim. Vou a “Saint Súplice” e na frieza do templo, peço a Deus que me ilumine e agradeço as coisas magníficas que Dele recebo. Sou um turista que sabe seguir pelas ruas sem medo do desconhecido. Eu sou Paris. À noite, vou jantar e volto para o hotel.
Saímos cedo do hotel para Giverny. Ao chegar, me disperso. Vou fazer meu próprio caminho. Visitarei lugares não delineados no mapa. Quero passear nos campos floridos e sentir o perfume dos nenúfares e outras flores. Fatigada e com fome, almoço num pequeno bistrô. Somente nesta, hora lamento não ter com quem dividir emoções, é sempre bom em torno de um vinho a gente ter com quem compartilhar. Retorno à casa de Monet. Revivo todo um período de luz e cores. Que revolução fizeram esses pintores impressionistas, mostrando ao mundo as diversas faces da arte. Para encerrar o dia, assisti a um concerto nos jardins da praça principal. Volto leve e feliz. Paris me basta tanto, que não me sinto só. Continuo me embriagando de vinho e primavera. Giverney,
Ina Melo
Paris, Junho/2000.