Talento para a maldade
Flor
Tão bom conversar com você! mas de tantas coisas que conversamos nesse nosso reencontro, uma me deixou com um gosto amargo na boca. Ver o tanto de aborrecimento que passas e nada poder fazer para te ajudar a atravessar esse momento. Sim, gostaria de ajudar, mas como?
Sei que quem convive, vez ou outra ou quase sempre, diverge, é saudável ter opiniões diferentes, porém, esse clima de pé de guerra, de desconfiança que se instalou, entre seu grupo, precisa ser resolvido, com maturidade, entre vocês mas a você minha amiga meu ouvido solidário, sempre. Não, não me chateio por lhe ouvir... que tipo de amizade seria a que é só da hora da alegria?
Sei que as relações de convívio estão cada vez mais difíceis. Agravam-se na medida em que os sentimentos do egoísmo e da inveja se instalam, sorrateiramente, nos espaços coletivos e é inegável a capacidade que algumas pessoas têm de serem venais, caluniadoras, fofoqueiras e mentirosas, soberbas ao ponto de achar que ninguém percebe seus joguinhos... elas são as sábias e os demais, os tolos.
Infelizmente Flor, há pessoas para quem a vida é uma farsa, um espetáculo de mau gosto, com “leva e traz” do palco para a platéia e todos posando de mocinhos (as)... O mais lamentável disso tudo é observar que o corriqueiro da convivência é alguns acharem que enganam, outros fingirem que acreditam na farsa e todos convivendo como se nada estivesse acontecendo, todos segundo suas conveniências. A hipocrisia parece ser mesmo o fundamento dessas relações e ninguém merece viver num clima assim.
Os desentendimentos são inevitáveis, pois cada um e cada uma vê e ouve segundo o que está posto em sua alma. Não se espante, é comum a visão parcial dos fatos e se sentir parte, estar envolvido no problema piora as coisas. Grupos são mesmo assim: mal um fato acontece, bom ou ruim e já se toma partido. Num minuto dois ou mais blocos se formam e só se ver o que se quer ver e só se acredita no que se quer acreditar. Discórdia instalada, equívocos e injustiças são cometidas, pré- julgamento e calúnias são proferidas como grandes verdades.
Creio que há um talento para a maldade sim e é tanto que essas pessoas sequer avaliam o prejuízo nas vidas das suas vítimas, não estão “nem aí” se comprometem e contaminam o ambiente em que vivem ou trabalham, não se importam com a trilha da discórdia que deixam ao redor de si.
A vida ensina que o melhor que se faz em situações deste tipo é manter a distancia necessária, manter a calma e deixar que o silêncio fale naturalmente e que a justiça e a verdade prevaleçam.
Reflito que quem age desta forma talvez seja quem mais precise de ajuda para entender que “pescoço não é escada”, que para brilhar, ser notado, reconhecido, não é preciso destruir quem passa pela frente, não é preciso usar as armas da indignidade para “eliminar a concorrência.”
Relembro, não sem tristeza, um ditado popular sempre repetido por minha avó: “cada um dá o que tem” e penso nas escolhas que fazemos, nos caminhos que estão a nossa frente e nem sempre temos discernimento e sabedoria para escolher não machucar o outro, não ser inconsequente.
Infelizmente convivemos com gente assim em vários ambientes. Somos imperfeitos demais, humanos demais para estar acima desses sentimentos que apequenam nossa alma, mas acredito na evolução da espécie. Sim, podemos superar tudo isso e aguardar que a verdade apareça leve o tempo que levar e, certamente porque quem mente e calunia cai em contradição, a verdade nem demora tanto assim.
Educadores devem ser espelho de atitudes éticas e responsáveis e as ações que protagonizamos pesam mais que qualquer discurso, que qualquer palavra dita para comover ou “dourar a pílula.”
Tomara Flor, que estas nuvens se dissipem, que o sol volte a brilhar e que cada pessoa inaugure uma nova fase de convívio, baseado no respeito, na tolerância e na solidariedade pois não se admite que pessoas que convivem em um espaço pedagógico sejam tão pouco amadurecidas, tão pouco capazes para lidar com desafios e conflitos inerentes a função que cada um e cada uma desempenha.
Fica em paz, Flor. Não esqueça: torço muito por vocês, torço e desejo que tudo acabe bem.
Beijos,
sua amiga Edna Lopes.
Da série CARTAS PARA UMA FLOR...