Confissões

BsB, 11 julho de 2006.

Ô meu amigo estou com saudade das nossas falas. Quanto tempo, quanta distância?! Por aqui as coisas seguem os ventos dos Campos Elíseos, isto era tudo que eu queria e sonhava. Tenho encontrado com minha musa, dia sim, dia não. A vida tem oferecido, a mim, novos ensinamentos e novas oportunidades ao lado dela. Espero que este "vilão" seja extenso e repleto de “pedras preciosas” como o frio e o calor.

Devo lhe dizer que ontem foi um dia atípico, estava muito frio, com nuvens carregadas e espessas, nada parecia estar a nosso favor, ainda assim, saímos sem direção, sem um rumo específico ou premeditado. Acho até que faltou criatividade de nossa parte, mesmo com o mundo de portas abertas para nós. Nada parecia querer nos deter ou incomodar. Todas as ruas estavam desertas, todos os sinais luminosos estavam abertos, todos os transeuntes nos davam preferência. Caminhamos lado a lado por longos e calorosos minutos até que nos vi sentados em uma escadaria de um prédio residencial próximo de nossas casas. Os degraus, revestidos de musgos e, pequeninas plantas que cobrem as rachaduras deixadas pelo tempo que nada perdoa ou deixa impune, estavam divinos. Diga-se de passagem, um lugar lindo. Como se tudo isto não bastasse, um pássaro de tamanho “duvidoso” nos presenteava com sua cantoria abstrata, mas de uma melodia jovial que trespassava o nosso silêncio proposital. Parecíamos dois intrusos naquele ecossistema, dois malucos que, para lá, foram sem desrespeitar o nicho tão encantador do amigável morador silvestre. Conversamos de A a Z, tudo era novidade, tudo era motivo de risada e às vezes sobressaltos. Passamos a limpo nossas conversas, tiramos todas as dúvidas que pairavam em nossas mentes, equívocos que não passavam de meros sinais de ciúme, de parte a parte, foram esclarecidos e dados por encerrado.

Não trocamos um único abraço. Apenas nos contemplávamos, nos desnudávamos um para o outro, como se fôssemos criar raízes ali naquele desvão de concreto, onde flores e pássaros se misturavam em beleza e equilíbrio nas pontas das derradeiras galhas que balançavam com o sopro, quase ingênuo, do vento.

Ela estava vestida com trajes que lembravam as ciganas: saia rodada na cor vermelha, pulseiras coloridas nos braços, argolas douradas nas orelhas e correntes, de diversos tamanhos e formato, no pescoço. Quem passasse por ali despercebido, certamente acharia que era mesmo uma cigana querendo ler a minha mão.

Ah meu nobre e querido amigo, quando estou assim, despido, ao lado dela, nunca sei se é noite ou dia, se o céu está azul ou amarelo. Às vezes meus neurônios dizem que estou com febre, às vezes os loucos dizem que estou nu de tudo que possa ser mau ou ruim, às vezes os anjos dizem que ela é a minha alma em carne e osso, às vezes sinto que o meu corpo só é visível quando estou envolto por suas mãos, braços e pernas, isto sem falar da boca, olhos e ouvidos.

Um grande abraço,

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 11/07/2006
Reeditado em 24/11/2006
Código do texto: T191751
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