Quantos navios queimamos para não poder voltar.

Maceió, 05 de novembro de 2009

Meu querido,

agora que o dia dos mortos já passou, declaro o dia dos vivos.

Sabe você o que é isso?

Sabe você como se comemora a vida?

Pergunta retórica, é claro. Você me presenteava com aldeias, você, e só você, me convencia que a vida é uma fastidiosa comemoração, onde o sol nasce alegre e declina tristemente em ocasos melancólicos.

Era você quem me ensinava a beleza e o calor das noites, quando não dormíamos, esperando que nosso coração voltasse de sua ronda, quando galopava as infinitas campinas.

Declaro, porém, que já não sei.

E eu procuro em você a resposta, olho nos teus olhos, mesmo você estando a uma distância infinita; procuro sua voz nos meus ouvidos, mas ela não passa de um sussurro que eu não sei mais o que afirma.

Ah! meu querido. Meu querido...eu sempre te disse que o diabo está nos detalhes, que a vida está sempre fugindo de nós, que essa separação já aconteceu. Mas, eu não acredito nisto e você não tem motivos para acreditar e assim, vamos os dois, nos perdendo entre abraços tão fugidios que a manhã os dispersa.

Não posso te chamar de volta e você não pode voltar, resta-nos esperar que passe o exílio de séculos, para que possamos contar mutuamente, quantos navios queimamos para não poder voltar.

tua amada, meu amado