Cartas de Paris IV
Querida amiga,
A vida continua a me levar por caminhos inesperados Faço-te esta carta de Paris, para onde vim de forma inusitada. Lembras, quando te falei do meu marasmo existencial na última carta? Pois é: um dia, quando as esperanças tinham-se evaporado e a tristeza começava a se infiltrar no meu coração, eis que chega às minhas mãos uma carta reativando toda a minha capacidade de acreditar nos sonhos.
Temerosa, abri o envelope e li nas seguras linhas corridas no papel, à promessa, em forma de convite, de que a felicidade pode estar sempre à nossa espera. Despertei para a realidade: eram as mesmas palavras carinhosas, falando de saudades e desejos adormecidos, junto com um bilhete de avião.
Como sabes, fazia muito tempo que Eduardo não dava notícias. Um silêncio inexplicável. Conheces-me bem, não sou capaz de correr atrás do impossível, e ele sempre se apresentou assim para mim. Creio que, pelo fato de tê-lo amado ou me deixado amar por numa determinada fase da vida, não me dava o direito de exigir algo mais do ele que pudesse me oferecer.
Daí a minha surpresa. Por isso, como sou uma pessoa que sempre atende ao momento presente e só vive o hoje, não pensei muito para aceitar o convite. Foi tudo tão rápido, que só dei conta do que estava fazendo quando entrei no avião. Passei parte da noite de olhos abertos tentando enxergar a realidade do hoje, mas só vislumbrava o futuro.
Cheguei a me olhar no espelho e ri para a mulher de olhos brilhantes que nele se refletia. Qual de nós é a real? Pensei! Fui à última passageira a descer, pisando no tapete da passarela como se flutuasse. Não via ninguém, tal era a minha ansiedade. Ao desembarcar, vi Eduardo vestido de jeans azul, sorrindo e fazendo sinal. Retribui, apressei os passos e corri para ele. Tão ansiosa estava que deixei a bolsa cair, derramando tudo pelo chão. Ele abaixou-se e pôs tudo no lugar. Estávamos tensos.
Quem realmente estava ali à minha frente, o alegre e jovial homem de ontem ou o maduro senhor de hoje? Não podia distingui-los, ambos se misturavam. Saímos abraçados e só falamos quando chegamos ao carro. As palavras jorravam desencontradas, lágrimas e beijos se confundiam, os corações batiam fortes e as mãos, quais caminhantes cegos se procuravam e se perdiam procurando tocar na pele um do outro. Bocas sedentas se encontraram num longo beijo, nos fazendo acreditar na felicidade.
Passamos pelas ruas feéricamente iluminadas. Entramos no hotel e, embalados pelos sonhos subimos para o apartamento, onde flores e champanhe nos esperavam. Tudo igual como era antes, apenas o homem e a mulher estavam cansados dos desencontros da vida, mas ainda tinham muito amor e paixão para se ofertarem. Corpo e alma se fundiram e a felicidade antes perdida, reapareceu fazendo-me novamente tornar o sonho realidade. Assim me despeço, cara amiga, mergulhando no infinito encanto desta bela e glamourosa cidade. Abraços. Paris, maio/2005.