O Partido dos Trabalhadores em Itabaiana
Velho Fábio,
Acerca do seu artigo “Foi por uma causa”, publicado no blog Toca do Leão do dia 21/09/09, temos muitas outras histórias para contar, algumas até hilárias, na nossa luta para fundação do Partido dos Trabalhadores em Itabaiana no início dos anos 80.
Lembro-me que naquele ano nos acompanhamos toda discussão em torno da criação de um partido operário legal. Vários nomes foram sugeridos, dentre eles o de PP (Partido Popular), para depois se tornar vencedor o nome PT, o qual permanece até hoje.
Já devidamente formado nas grandes cidades paraibanas os dirigentes estaduais do PT corriam contra o tempo na difusão do partido em outros municípios com vistas à primeira eleição que a agremiação poderia concorrer no Estado da Paraíba para todos os cargos majoritários e proporcionais. Aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, eis que as regras eleitorais daquele momento exigiam a formação do PT em mais um município para que o projeto estadual se concretizasse.
A partir daquele momento surge um time de estudantes itabaianenses formado por Fábio Mozart, Sósthenes, Joacir, Sanderly, Pedro Lourenço e outros, além de seguidores, para a premente e difícil empreitada. Primeiro teríamos que fundar o PT em Itabaiana, o que foi feito sob a presidência de Fábio Mozart. O livro de ata de fundação ainda hoje se encontra comigo. Levamos o livro devidamente preenchido ao Meritíssimo Juiz da Comarca Dr. Reginaldo Oliveira. O magistrado, que também é escritor, pergunta pelos filiados. Não havia nenhum. Somente os fundadores. Sem filiados, nada feito, o partido ainda não tem identidade, porque falta um número x de eleitores, salvo engano, era mais de 100 para o novel partido tivesse existência em Itabaiana. Isso era numa sexta-feira. Somente restava o sábado e o domingo para as filiações, porque na segunda-feira o prazo se expirava.
No sábado por volta das 10 horas começamos nossa campanha de filiação, com visitas aos munícipes e esclarecimentos sobre a nova proposta de um Brasil melhor, capaz de mudar a vida toda população. Isso somente seria possível com a adesão ao PT. Alguns entendiam alguma coisa e aderiam, outros não queriam nem saber. Aquilo era coisa de comunista. Ia dar cadeia. Ainda havia os incautos, ou será que ainda não há, que se viravam prá gente e diziam: só assino esse negócio depois que conversar com Dona Dolores ou outro dono de curral eleitoral. Com os analfabetos e semi-analfabetos era uma dor de cabeça.
Faltavam umas vinte filiações, então resolvemos apelar para o improviso. Fomos à luta nos botecos. De mesa em mesa, se jogava a ficha. Prá que isso? Perguntava um. Pedro Lourenço, com umas quatro na cabeça, respondia: se você não quer assinar, não assim, mas não vem com essa de perguntar prá quê. De todas, a mais engraçada foi a do compadre Nino da Sucam. Ele estava tomando umas no bar do Carioca, quando nós chegamos. Fiz a proposta para que assinasse a ficha de filiação por um novo modelo de partido. O Nino não entendeu bem e foi logo dizendo. Assino agora, esse negócio de todo ano ter os mesmos blocos de carnaval em Itabaiana, tem de acabar. Chega da mesma coisa. Passados alguns dias, Nino foi convida por D. Dida, para que fizesse parte do partido que ela pertencia, salvo engano, o PDS. Assinou a ficha. Só que quando chegou ao cartório eleitoral, houve duplicidade de filiações, o que fez com que D. Dida ficasse irada e dispensasse os préstimos do compadre Nino, sob o argumento de que ele era um comunista e estava querendo se infiltrar num partido acima de quaisquer suspeitas. Compadre Nino mesmo sob protestos, manteve a filiação ao PT. Na eleição daquele ano, houve candidaturas em todos os nível pelo PT, inclusive com o lançamento de Sósthenes, teu irmão, pra Deputado Federal e Idalmo para o Senado, graças ao grupo de abnegados estudantes que não sabiam o que queriam, mas sabiam muito bem aquilo que não queriam.
Joacir Avelino
Maceió/AL