De plantar rosas...
"Ela plantou rosas e das rosas brotaram, unidos aos caules vigorosos, espinhos finos e pérfidos."
Como? Caule verde e viçoso... Espinhos que não permitem que eu abrace aquelas rosas, a ponto de esmagá-las em meu peito e poder com suas pétalas fazer uma mortalha.
Uma senhora me disse que as rosas são para que possamos admirá-las. Tão logo, choro.
Que me importa. Abraço as rosas e as aperto com violência contra o peito. O sangue que jorra é puro e rubro, se mistura às pétalas cintilantes.
O coração é arrancado e posto em seu oco lugar um odre. Nele deposito o que restou dos botões suntuosos, dos espinhos pontiagudos e do medo de, antes, não poder abraça-las.
Estas estórias de flores me dão medo, porque pemeia a morte; mas, num segundo, me lembro que a minha morte é vida em outro. Ou muitas outras vidas.
E quantas vezes na vida já morri. Às vezes pelas agrulhas espinhentas das roseiras mortíferas, n'outras por tão menos e peculiares contratempos, não valem ser recordados.
O que importa e mata de anseio é que "aquela que planta rosas", algumas vezes, sou eu. E o "eu" não sabe,
exatamente, plantar rosas. Tão logo, não corro riscos de ferir meu peito, tampouco expor o coração aos medos.
Os espinhos não abrem a carne e, provavelmente, não haverão cicatrizes notáveis.
Mas, fitando meus olhos baixos, ora claros ora escuros, saberás que ando semeando n'alma coisa ou outra. Saberás que brotarão sonhos e idéias. N'algumas delas me consumirei, n'outras sangrarei intensa e derradeiramente... Toda a alma.
Os espinhos internos, semeados nas ilusões perfuram com muito mais dor e prazer que os concretos. E haverão inúmeras cicatrizes num espírito sonhador, tão pouco lúcido!
Conseguirás enxergar e até tocar o sangue derramado...
Não estás lendo-o neste instante?