Pastoral, liturgia e ecologia na Diocese de Rubiataba - Goiás
Circ. Pastoral 058/2009
Rubiataba, 20 de outubro de 2009
Aos: Párocos, religiosas, agentes de pastoral e convidados para as assembléias paróquias a serem realizadas neste ano de 2009 na Diocese de Rubiataba/Mozarlândia.
Irmãos e irmãs,
No momento estou participando da Semana Nacional de Liturgia e Ecologia, promovido pela CNBB, razão pela qual escrevo esta carta. Agradeço a participação de todos em nossa XII Assembléia Diocesana de Pastoral, da qual foi possível extrair alguns pontos importantes para direcionar os trabalhos pastorais nas paróquias e comunidades.
Quero que vocês lêem esta carta na reunião preparativa e durante os trabalhos das assembléias paróquias de pastoral a fim de fazermos comunhão com todos que, perplexos com a degradação do meio ambiente, querem realizar um trabalho de cunho planetário para adiar o fim das condições de vida na terra, nosso habitat, e dar melhores condições de vida a todos que partilham dos bens da natureza.
No momento o Planeta Terra pode ser comparado a um corpo perrengue, doente, enfermo e febril. A febre é sinal que o corpo não está bem e precisa providenciar urgentemente o tratamento adequado para reanimar
Os conhecimentos teológicos conjugados aos conhecimentos da ciência moderna entendem que tudo caminha para o fim, para o término, para o escaton. Pela lógica isso é verdade. Contudo, um corpo pode viver mais se for trado e melhor cuidado. A terra é um corpo no qual existimos. Enfim, somos responsáveis pela conservação e manutenção deste corpo que dará condições para a continuidade da vida humana no planeta.
Precisamos somar forças com todos os seguimentos da comunidade internacional que neste momento se movimenta em prol de uma sensibilização global em favor da preservação do planeta. Nossa Diocese está numa região de grande importância, com diversos biomas vitais e ameaçados pele desmatamento e queimadas irracionais, depredação dos rios e despejo de lixos em encostas e estradas vicinais. Precisamos começar urgentemente um processo de conscientização sobre a preservação do meio ambiente. Para tanto, vamos usar nossas estruturas pastorais e a liturgia como espaço aberto ao serviço de conscientização. É algo urgente. Em razão da nossa fé precisamos colaborar.
Sugiro que neste final de ano, nos trabalhos preparativos e nas assembléias paroquiais, se contemplem em cada paróquia, ações concretas, sem timidez em favor da conscientização da preservação do meio ambiente. É hora de agir. Precisamos conservar nosso habitat e zelar da pessoa humana que depende da Obra da Criação para viver. Precisamos desenvolver uma mística em torno deste assunto, um espiritualidade que contemple a defesa da ecologia.
O Vale do Araguaia pede socorro. Há centenas de lagos grandes e pequenos em nossa Diocese, muitos seriamente comprometidos pelo desmatamento. Temos na região fazendeiros e pecuaristas com senso profundo de preservação do meio ambiente e que investem nisso. Mas, por outro lado, há outros que degradam e egoisticamente pensam somente no lucro e nos seus interesses. Os políticos, por sua vez, são tímidos e não são ousados em tomar medidas que visem preservar o pouco que resta dos biomas originais. Os mecanismos de fiscalização nem sempre cumprem seu papel e há notícias sobejas de subornos e corrupção permissivos, enquanto a natureza pende pelas mãos gananciosas e estúpidas de seus algozes.
O que podemos fazer concretamente?
1.O uso do plástico: A produção de plástico cresce e torna-se cada vez mais um problema para a preservação do meio ambiente. Usa-se muito petróleo para sua fabricação e seu despejo no meio ambiente vai intoxicando a natureza e degradando o nicho de várias formas de vida. Flores na liturgia: Evitar a todo custo o uso de plástico na liturgia. As flores e uvas de plástico são falsas e matam o sentido concreto e profundo da liturgia, sobretudo na oferta e na ornamentação do altar, das imagens e do sacrário. Flores no cemitério: Incentivar o povo a não usar flores de plástico no cemitério no DIA DE FINADOS e nas visitas de cova no sétimo dia, etc. Quando usar flores naturais os restos não devem ser queimados, mas aproveitados nos canteiros e quintais como adubo orgânico. Copos e sacolas de plástico: Evitar o uso de copos descartáveis nos encontros; cada um leve o seu copo ou caneco que não seja de plástico. O copo descartável causa danos à natureza. Da mesma forma as sacolas de plástico; incentive o povo a usar as sacolas de pano que facilmente degrada-se na natureza sem agredir ao meio ambiente.
2.Adaptar a temática ecológica: Usar a temática ecológica para conscientizar através de Via Sacras, celebrações e práticas penitenciais, celebrações eucarísticas especiais, valorizar a água, o óleo, as flores naturais (incentivar os fiéis a plantá-las para serem usadas na igreja).
3.Catequese e pastoral com conteúdo ecológico: Interagir a temática ecológica nas diversas etapas da catequese, promovendo a prática concreta de preservação do meio ambiente. Valorizar caminhadas ecológicas, reflorestamento, distribuição de mudas e falar dos elementos da natureza que fazem parte da nossa vida, agora ameaçada pela ação humana.
4.SUGESTÕES: Ao construir espaços sagrados ou pastorais, levar em conta os aspectos de preservação ambientais. Valorizar o verde, as árvores e a água. Adaptar os ambientes de encontros e demais atividades às exigências ambientais (não usar plástico, evitar o corte de árvores e folhas de coqueiros para confecção de barracas de festa, ao celebrar missas campais deixar o ambiente limpo imediatamente ao término do evento, evitar a confecção de fogueiras que exija o corte de árvores vivas, etc).
Em Aruanã e Bandeirantes, aproveitar a festa, as procissões fluviais e terrestres para conscientizar sobre a preservação do Rio Araguaia e demais rios. Promover junto aos ribeirinhos e turistas a conscientização para evitar a matança das tartarugas, jacarés, a pesca predatória e o extermínio do Pirarucu.
Promover a cultura da reciclagem e da seletividade do lixo. Debater isso com os prefeitos, vereadores, Ministério Público e demais autoridades que devem promover a boa saúde do meio ambiente. Veja como está o aterro sanitário de sua cidade e incentive a prefeitura a embalar na coleta seletiva do lixo, há recursos federais para tais projetos, basta ter vontade política. Pregar contra a depredação e contra os que praticam crimes ambientais e depois subornam agentes de fiscalização para se livrarem das penalidades.
Promover na medida do possível o término da prática do uso do folheto litúrgico que é feito de papel de madeira. Quem usa o folheto que aproveite-o para a reciclagem juntamente com toda a papelada que ajuntamos em nossas paróquias. Vejam a possibilidade de evitar o uso dos fogos de artifícios nos eventos. Os shows pirotécnicos são bonitos, mas são poluentes. Incentive o uso do som nas igrejas de forma ecológica, sem que agrida o nível normal de audição das pessoas. Com o som mais suave e mais baixo se reza e celebra melhor.
Valorizar o dia 05 de junho, dia mundial do meio ambiente e o dia de São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia, para aumentar o grau de conscientização. Marque no calendário paroquial. Use os programas de rádios, missas e reuniões para promover a defesa da conservação de nossa casa comum: o Planeta Terra. Valorize o tema na Semana da Família e da Juventude, bem como a Semana da Vida no início de outubro. Discutam e realizem gestos concretos de preservação, isso ajuda a formatar a cultura pro vida.
No dia do batismo das crianças pode ser promovida a distribuição mudas de plantas da região para serem plantadas como apelo forte de zelo pelo meio ambiente onde a crianças vão crescer. Enfim, use a criatividade e a natureza agradecerá pelo que fizermos pela sua preservação e conservação.
Obrigado a todos e a todas. Deus os abençoe na tarefa de evangelizar e louvar a Deus a partir da Obra da Criação que Ele nos concedeu.
Em Cristo e Maria Santíssima,
Dom Adair José Guimarães
Bispo Diocesano