A SOBERANA DO TAJ MARRINHO
Oh minha esbelta e doce criatura, você se lembra de sua chegada em nosso círculo de amigos? Naquele tempo você ainda usava seus comportados terninhos, trazia também, em sua postura, inocentes trejeitos acadêmicos. Já nessa época, seus pés exerciam sobre mim o fascínio de um fetiche.
No transcurso do nosso mais traumático do que longo convívio, houve uma época em que tentei ser para tí apenas um zeloso irmãozinho. É evidente que não conseguí consumar tal pretensão e você triunfou soberana em todas as células do meu corpo.
O dia exato do seu domínio sobre o meu ser foi na porta do Taj marrinho: seu rosto tinha um brilho espetacular de estrela de 1ª grandeza. Seu curtíssimo cabelo, úmido de gel, projetava toda graça de uma gueixa treinada para o sagrado exercício do amor. Mas o tempo passou e sua bela estampa de mulher já não é mais a mesma figura que naquele momento mágico internalisei.
Hoje você não é mais minha estrela de fantasia, apesar de não ser mais também minha terna irmãzinha. Você é hoje para mim um ser humano como qualquer outro, crivado de defeitos e ornado por um longo rosário de virtudes. Portanto merecedora de todo respeito.
Foi muito salutar aquela decisão que tomamos, sem ressentimentos e sem mágoas, fez bem para ambos. Não é sadio deixar que uma figura introjetada comande um convívio.
Sempre desejei que o céu viesse sorrir para você e que o roçar da brisa acariciasse seu rosto trigueiro.