A EDIÇÃO DO PRIMEIRO LIVRO

– para Ligia Lacerda, em Tramandaí/RS.

Poetamiga! Agora já contas com duas ofertas de editores pra examinar a possibilidade de edição de livro. Tudo o que pedires pra um, pede também para o outro, exigindo orçamento por escrito.

Já te disse anteriormente que é importante que o livro ande bastante, instigue o maior número de cabeças, por isso a tiragem não deve ser menor do que um milheiro de exemplares. Tiragens abaixo disto ficam no quase anonimato. Não há fôlego para que haja boa circulação da obra.

A tiragem de mil exemplares permite que a obra perambule nas mãos de autores e leitores em múltiplas “Feiras do Livro”, existentes em quase todas as cidades de porte médio, no RS, e no país. Também em mostras eventuais em escolas e associações, livrarias e sebos. Essa tiragem permite intensa movimentação livreira durante três a cinco anos. Bom tempo para produzir nova obra e se achegar novamente ao mercado.

No lançamento, obterás a venda de um livro a cada dez convites expedidos, no universo de intimidade de teus parentes e amigos, e, eventualmente, alunos, acaso o autor seja professor, em atividade na sala de aula.

De quase nada adianta expedir convites para quem não conheces. No caso, o retorno é a venda de um livro para cada vinte convidados, dependendo dos cuidados gráficos do convite, e, quase sempre, pelo oferecimento de coquetel no evento de lançamento.

Poucos alunos aceitam (e não porque não possam) gastar dinheiro com livros, principalmente de poemas. Toleram os pedidos de seus professores-escribas, na universidade, porque, além fazerem graça e imagem para a obtenção de boas notas, sempre pretenderão obter algum retorno salarial ou benesses que ajudem na quitação das mensalidades escolares, tais como a escolha para as chamadas "monitorias".

Pretenderão, também, o beneplácito e deferências especiais dos autores de livros, ao enfrentar bancas de mestrado e doutorado. E mais: sabem que no futuro terão de enfrentar a concorrência dos colegas já estabelecidos no mercado de trabalho.

Tu vais vender, no final, somente cerca de 20 a 30% da edição, o restante é pra ofertar a quem goste de ler e que seja formador de opinião. É aconselhável que se o distribua graciosamente à imprensa e aos professores de literatura.

Sem publicidade, nenhum livro, em qualquer gênero literário, anda por suas próprias pernas. A obra necessita circular, este é o destino dos livros. Com a Poesia o jogo é mais duro ainda. Os editores não apostam nas vendas e não há mídia capaz de empolgar o público em geral.

Nenhum autor sai do anonimato literário para a fama sem, no mínimo, uns dez anos de trabalho duro. A não ser que logre vencer um concurso literário nacional e o prêmio seja a edição de livro por editora que tenha ótima distribuição.

E haja paciência para aturar a crítica especializada...

Porém, num país que lê minimamente, são os analistas literários que terão agulha e linha para costurar o editor do próximo livro de poemas, acaso o poeta tenha obtido o respeito da crítica e estrondem aplausos ao seu talento.

De quando em vez acontecem estas raridades.

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/2009.

http://recantodasletras.uol.com.br/tutoriais/1864984