CARTAS AO LEO
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Campo Grande, setembro de 2009
— Você não me ama! Disse, certa vez, meu filho, ao ser repreendido por mim. Naquele dia, desconcentrado, surpreso, agoniado, por tão mentirosa afirmação, um ódio surdo me cresceu na alma e retruquei com raiva, estufando o peito como um galo de quintal. Meu filho tinha se transformado, de uma hora para outra, num insuportável carrasco, num torturador.
Tal fato me espantou, porém, ao mesmo tempo, me confundiu e perturbou que muitos dias se passaram antes que eu pudesse recompor minhas idéias. Não atinei, naquele momento, que tal exclamação, não vinha do fundo da alma de meu filho. Não atinei que era apenas um adolescente, como muitos outros, dando vazão à indignação de um ato repressivo.
Mais tarde, ao ler um artigo sobre psicologia do adolescente, deparei-me com o relato de uma mãe – que passara pela mesma situação – e que me ensinou, tardiamente, como deveria ter procedido naquele dia. Leia, caro amigo, e diga-me se não foi um verdadeiro "tapa de pelica" que ela aplicou no filho:
— Você não me ama! Disse-lhe o filho.
— Amo você o suficiente para incomodá-lo com perguntas sobre onde vai, com quem vai, a que horas volta para casa. Responde a mãe.
Amo você o suficiente para deixá-lo descobrir que seu amigo era um crápula.
Amo você o suficiente para ignorar o que outras mães faziam ou diziam.
Amo você o suficiente para deixá-lo tropeçar, cair, machucar e fracassar.
Amo você o suficiente para aceitá-lo como é e não como gostaria que fosse. Sobretudo, amo você o suficiente para dizer não quando você me odiava por isso.
É... Pois é, Leo, se arrependimento matasse...
Inté!
Ricardo.
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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquercomentário.
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