A grande notícia

BsB, 30 junho de 2006.

Ô meu grande amigo, como vai você? Tenho uma notícia maravilhosa para lhe contar, você não vai acreditar, é bonita demais para ser dita assim, de tão longe. Queria estar aí, ao seu lado, frente a frente para poder lhe explicar nos mínimos detalhes a riqueza do meu encontro com minha amada. Desejaria poder lhe dizer tudo que senti e vivi , não sei se vou conseguir, mas vou tentar, mesmo que esqueça de alguma passagem importante. Estou feliz, de verdade!

Encontrei minha musa, minha flor perfeita, minha Vênus adormecida. Ela estava radiante em suas vestes cor-de-rosa; roupas que faziam dela uma verdadeira Mulher. Dos pés à cabeça, um monumento digno de louvor e admiração. Parecia que nunca havíamos ficado longe um do outro, mesmo que em sonhos ou renúncias. Ela veio correndo em minha direção, braços estendidos ao longo do corpo, seios arfantes e belos. Estava ali, à minha frente, como nunca esteve, fiquei literalmente aos seus pés, como um Deus grego revestido de todos os seus poderes que se curva ante aos trovões e relâmpagos em noites estremecidas. Nos abraçamos longamente sem trocarmos qualquer palavra, nem era necessário. Nossas línguas ressequiam de desejos, comungavam outros idiomas percorriam infinitos caminhos, estavam à deriva, não haviam motivos suficientes para que nós nos ouvíssemos e nem este era o nosso principal objetivo. Nossas mãos falavam por nós; caminhavam por veios e seios, picos e bicos intumescidos. Divertiam-se em verdadeira algazarra. Em meu dorso, embrutecido e curvado, suas unhas, lâminas de aço, contorciam e rangiam como cigarras que se esfregam no momento do acasalamento. Nossos corpos, já nus e aquecidos, se davam um ao outro como se estivéssemos famintos, como se quiséssemos nos engolir. Como se isto fosse possível para nós mortais de todas as épocas. Mesmo assim nos lançamos cegamente um contra o outro numa batalha da vida contra a morte. O que era possível vencer, foi, de certa forma, trespassado por parte do meu corpo; todas as barreiras ruíram, todos os limites se perderam. É razoável afirmar que todas as pétalas já haviam sido bulidas pelas pontas dos meus dedos naquele singular instante. Foi como uma quilha que vai até o fundo do poço ou da alma. Cavalgamos juntos nos mesmos sonhos, na mesma vaga, na mesma onda. Explosões iam se sucedendo dentro de mim como um vulcão que estava adornado desde datas distantes. A alforria derramava lava incandescente para o mundo que se abria à minha frente, ao meu derredor. No corpo dela o suor escorria gelado, trêmulo, aflito. Do meu, gotas minúsculas pingavam insistentemente da minha face, como se eu estivesse com febre ou em prantos.

Meu amigo! Naquela hora renunciei aos céus em função do que minha alma pedia e exigia de mim. Era preciso me permitir experimentar o prazer e o gozo de ter algo tão vivo e tão sonhado em minhas mãos, mesmo que me custasse à salvação. Cuidei de mim como ela havia pedido. Cuidei tanto, tanto, que, quanto mais me olhava, mais eu a via em mim. Ontem eu era uma criatura indomada e de muitas cabeças. Hoje sou um homem cheio de sonhos e um pouco maior do que era anteontem.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 30/06/2006
Reeditado em 05/12/2022
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