Paizinho...
Ele vai embora e com ele levará...
as muitas mãos
o sorriso frouxo
o abraço apertado
os beijos molhados
Ele vai embora e com ele levará...
mamãe ta apaixonada...
as profundas analises do anão disfarçado de menino
tu me ama? eu te amo... ele me ama mamãe
nunca vi mamãe feliz assim...
Ele vai embora e com ele levará...
não chora mãe, ele te ama tambem
ô mãe, não fica assim não, eu sofro...
ele é o teu segundo namorado, eu sou o primeiro
queria que ele fosse meu pai, tu não teria sofrido
Ele vai embora e com ele levará...
mamãe compro celofane pra cesta azul ou branco?
ô mamãe tu nem sabe fazer o laço da cesta! deixa que eu faço
pra que isso? é aniversario dele?
guarda jantar pra ele, com certeza ele vem aqui hoje!!!
Ele vai embora e com ele levará...
o que ele não queria
o aceitar da possibilidade
a possibilidade
a certeza
Ele vai embora e com ele levará...
as minhas noites de insonia
minhas manhãs de muito sono
minhas tardes de espera
os minutos contados
Ele vai embora e com ele levará...
ele te namora e nem sabe...
ele gosta de ti, vejo no olhar, já diria o anão
namora nada! ela é minha namorada!
tudo bem, eu deixo tu namorar, mas não pode beijar na boca...
Ele vai embora e com ele levará...
ô coitado, ele terá de comer tua comida mamãe!
acho melhor dizer pra titia fazer...
faz só macarrão mesmo... não te arrisca
credo mamãe... não ta tão ruim assim, ele vai gostar
Ele vai embora e com ele levará...
minhas noites de proza
os pés inquietos
os carinhos e apertos
o afago da noite
Ele vai embora e com ele levará...
minhas mãos frias
o tremor de meu corpo
a respiração ofegante
o gozo fácil
Ele vai embora e com ele levará...
com cachorro
com mulher
e com menino
eu só falo uma vez!
Ele vai embora e com ele levará...
as flores
os cartões
as cestas enviadas
e as que ainda nem enviei
Ele vai embora e com ele levará...
minha insegurança
a auto-estima flutuante
as frustrações
nossas dores
Ele vai embora e com ele levará...
os emails imensos e torpedos constantes
a necessidade de compartilhar
as analises profundas
a terapia mutua
Ele vai embora e com ele levará...
a sintonia
a protocooperação
a integralização
a plenitude
Ele vai embora e com ele levará...
o banho frio no quintal
a casa suja que tanto quero arrumar
o sorvete de morango
o churrasquinho
Ele vai embora e com ele levará...
o aprendizado que tivemos
os momentos leves
os dias pesados
o choro, a dor e o consolo
Ele vai embora e com ele levará...
minha criança
meu paizinho
a mamãe dele
o cuidado e carinho
Ele vai embora e com ele levará...
possibilidades
minhas certezas
suas duvidas
a promessa
Ele vai embora e com ele levará...
seu caráter
suas convicções
suas explicações
sua integridade
Ele vai embora e com ele levará...
Senhor o que eu faço?
posso te fazer uma pergunta?
vou falar uma coisa feia...
não sei como receberá isso...
Ele vai embora e com ele levará...
bocas ávidas
a cadencia dos corpos
os olhos marejados
o silencio que tudo diz
Ele vai embora e com ele levará...
as amigas bonitas e alfinetadas doídas
as que não são tão amigas
as muitas irmãs, Maria, toda sorte de Reginas e Anas
dona Bela
Ele vai embora e com ele levará...
a ausência de reservas
o aconchego
a falta de medo
o deitar em seu peito
Ele vai embora e com ele levará...
a musicalidade
a temos a Deus
a sabedoria
a cautela e bom senso
Ele vai embora e com ele levará...
o piti fora de hora
o piti na hora
as tolas discussões
o beijo que sela a paz
Ele vai embora e com ele levará...
a manha
o bico
meus momentos
seus momentos
Ele vai embora e com ele levará...
o ímpeto de ir atrás
a vontade de pedir desculpas
o perdão liberado
e o que ainda não foi
Ele vai embora e deixará...
apenas muitas fotos?
apenas lembranças?
apenas saudades?
ou a certeza de que será meu assim como quero ser sua?
Dificílimo abrir mão de momentos onde vivemos com a alma, com alguém que entende a linguagem do olhar, que compreende o choro, que acalenta em momento de dor, que entrega-se, que deseja o mesmo que nós. A sintonia, a afinidade, a simbiose... está tudo tão alem de minha compreensão que custo a acreditar que isso seja finito.
Difícil fingir que nada sinto quando meu coração está em frangalhos, minha alma parece querer sair pela boca, meus olhos tentam esconder um choro profundo, minha boca tenta amenizar pra que a dor seja somente minha... fingir normalidade no que não me parece normal.
Fazer de conta que é tudo simples é complicado, a paciência requer pratica. A sabedoria que tenho não é suficiente pra aceitar o que não quero aceitar. Não tenho direito de impedir o sonho de ninguém, ainda que o sonho do outro pareça-me pesadelo. É hora de plantar, mas não sei se estarei na colheita.
Pergunto a Deus se é pra ser assim mesmo, se eu tenho de brigar ou calar... se finjo que morro ou se morro de vez. Meu menino vai... meu menino!!! Mas ele não é meu... ele é do mundo e é lá que ele quer estar!! Meu mundo é pequeninino, limitado demais pra ele.
Vejo o hoje, não vejo amanhã, nem depois... nem sei se chegarei ate eles. Recomeçar, era só isso, simples demais... pelo menos era o que parecia. Mas um pedaço de mim está sendo arrancado, um pedaço que guardo com carinho, com amor, com paciência... um pedaço que será amputado!
Meu Deus... meu Deus, diga-me o que fazer... minha razão tem de agir com frivolidade, coisa que meu coração desconhece. Nossa intensidade ficará somente na lembrança? Serão apenas bons momentos? Será apenas passageiro?
Tenho aproveitado o que posso, da maneira que posso, ainda que errada esteja. Apesar de erros cometidos, não é areia, é rocha firme! Alguns ajustes são necessários, mas nada como a boa vontade e amor pra ajustarmo-nos.
Enfim, muito teria a dizer...
Polyca morrerá?!?!