Carta de uma Criança Molestada
Talvez vocês não tenham idéia do quanto foi difícil para mim autorizar a publicação dessa Carta que relata tudo que passei nesses poucos anos de minha vida.
Tenho apenas 14 anos de idade, e desde que me entendo por gente sei que venho sofrendo abusos. E, o pior de tudo é que esse tormento todo ocorreu dentro de casa, no seio de minha família.
Sei que essa notícia com certeza causará muito espanto nos meus amigos, colegas de escola, professores e na vizinhança toda, pois sei que praticamente ninguém fora de minha casa imaginava o que se passava comigo.
Hoje já tenho conhecimento suficiente para entender que meu padrasto é um monstro e que ele nunca me amou verdadeiramente. Sei que eu era para ele uma simples fonte de prazer.
Lembro que ainda muito jovem, por volta dos 5 ou 6 anos, ele me tocava e me estimulava a tocá-lo também.
Nessa época, eu era muito nova e não tinha preparo psicológico para entender esses estímulos, e muito menos tinha noção da conotação ética e moral do que fazíamos. Mas, com o passar do tempo, fui desenvolvendo problemas emocionais, por que não tinha habilidade diante desse tipo de estimulação.
Eu tinha muito medo de dizer para outras pessoas, especialmente para adultos, o que se passava comigo. Assim, fui me tornando retraída e apática.
Durante todo esse tempo, sentia um enorme conflito no meu interior. O meu padrasto era alguém muito próximo e, por mais ilógico que pareça, eu gostava dele. Dessa forma, eu sentia um profundo conflito entre a lealdade para com ele e a percepção de que essas atividades torpes eram realmente más.
Minha vida era um constante conflito, o que me fazia passar muito tempo triste, chorando em meio à sensação de solidão e abandono.
Para piorar tudo, tinha medo da ira do meu abusador, e era atormentada pelo medo das possibilidades de vingança ou do vexame de expor minha situação diante de minha família e do público em geral. Eu desejava sair dessa situação, mas tinha receio de que minha família se desintegrasse ao descobrir tal segredo macabro.
Hoje, felizmente fui liberta dessa prisão e me dispus a registrar e divulgar minha história para alertar outras famílias, com intuito de evitar que mais crianças inocentes passem pelo mesmo sofrimento.
Peço a você, mãe, familiar, professor ou vizinho de qualquer criança que apresente sintomas de tais abusos: não se cale; tome uma atitude; procure ajudar tal criança, pois assim você estará salvando uma vida !!!
Salvador - BA, 06 de outubro de 2009.
Anônimo (“Uma Criança Molestada”)
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Iperó - SP, Outubro de 2009.
Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br