Cartas Pessoais - “cartas satíricas”
Deixei o hotel apressando o passo, o vento trazia o cheiro da chuva e os relâmpagos anunciavam o que estava por vir, era sexta-feira, mas por causa do tempo ruim anunciado durante a semana toda no rádio, não havia quase ninguém na rua, nem mesmo aqueles grupos de jovens que se reunião para algumas horas, regadas a cerveja e Martini, rodeados pela fumaça dos cigarros no canto da boca, sentados naquelas cadeiras dobráveis, jogando conversa fora enquanto riem e zombam uns dos outros. Eu mesmo já havia participado daqueles grupos – No tempo em que não pensava em tornar-me escritor. Hoje sei que no instante em que abandonei certos momentos, me dei à chance de recomeçar em um círculo de pessoas que eu chamaria de “além–mar”, sem limites para conhecer o mundo a minha volta. Comecei escrevendo sobre o misticismo, pesquisava na biblioteca pública...
E conseguia encontrar alguns livros que continham tratados e histórias interessantes – A Cabala foi uma delas; que me apresentou nomes e figuras da história do misticismo – Knorr Van Rosenroth, místico do século XVII que influenciou profundamente – homens como o mago MacGregor Mathers. Conheci Robert Fludd, na verdade o que Fludd deixou, que influiu sobre muito do que se conheceu em simbologia-mistico-contemporânea, se é que isso existe de verdade. O ano era de novos pensamentos e ações – em todo lugar via-se pessoas a procura, do conhecimento do eu interior, astrologia – no movimento dos astros, quiromancia – o futuro nas linhas das mãos, numerologia – o segredo por trás das letras do seu nome. Até mesmo na protuberância dos crânios, na frenologia.
Outros procuravam sociedades alternativas que resistissem ao consumo exagerado que era palavra de ordem.
Mas o foco principal era sobreviver às especulações, sobre no que influiria o poder político que aos poucos se arrastava. Eram palavras soltas no ar que formavam nas mentes alheias as bobagens e trapaças á favor ou contra os governantes, Jânio ainda deixava as pessoas perturbadas, ou quem sabe a síndrome de conspiração nunca deixara de rondar. Diante de toda aquela mudança crescente – Decidi escrever sobre qualquer assunto, a política que sempre acabava na mesma quando não atingia estágios e fases bem diferentes do que se desejava... Exemplos eram as mudanças que aconteciam em Cuba, ou que acontecera com a queda da Bastilha. A sátira combinada á política e ações desastrosas do homem que arriscava tirar os pés do chão eram os combustíveis certos para minha velha máquina de escrever.
Em muita das minhas “cartas satíricas” para jornais locais e revistas, eu deixava bem claro o que esperava das pessoas – O antipatriotismo combatido, e o patriotismo revigorado – Pensar na corrupção, não era somente criticar quem aceitava dinheiro e agia de acordo com o “crime” – Era desestruturar tabus e acabar com paradigmas dos próprios eleitores, que deveriam decidir quem comandaria o país. Uma batalha. A mesma história que foi contada e recontada no decorrer do tempo... Política é decididamente o que leva o homem a acreditar nos excessos imediatos e até certo ponto nocivos.
Página 19 - Livro - Primeira Parte