Carta à Morte.

Brasil, 30 de setembro de 2009.

Inesperada Morte,

Você é uma desgraçada! Você é abominável! Você é a maior praga que eu já vi! Desculpe-me por começar de forma tão direta, tão sincera, mas sinto-me na obrigação de ser sincero contigo que é minha companheira inseparável.

Não gosto de você! Entretanto, indago-me como sozinha tem a capacidade de abalar o mundo todo? Como é capaz de mover e comover o mundo, como na morte de João Paulo II, Martin Luther King, Lady Daiana, Jonh Lenon, Kurt Cobain, etc...

Você é uma desgraçada! A sua presença nos faz chorar, nos faz gritar, nos faz sentir uma dor que é quase insuportável. A sua visita sempre leva alguém que conhecemos, isso nos causa dor. Assim, percebe-se que você é incansável, pois todos os dias visita tantas pessoas. As vezes, é cruel! Visita grandes grupos, levando várias pessoas contigo.

Você é abominável! Não respeita idade, não respeita condições. Como é capaz de deixar filhos órfãos? Como é capaz de deixar mães sem filhos? Como é capaz de fazer jovens esposas chorarem seus jovens esposos? Como é capaz de destruir tantos sonhos? Quem lhe deu esse direito? Quem lhe fez pensar que pode tanto?

Perdi as contas de quantas vezes passou pela minha vida levando quem mais eu amava. Você é uma PRAGA!

Sempre ouvi que Deus é Amor, é Misericórdia, Bondade, etc... mas porque Ele criou a morte? Sim, no livro de Samuel está escrito: “É o Senhor quem dá a morte e dá a vida!” Também sempre ouvi que Deus foi quem criou tudo, mas porque criar você?

Sei que cada povo lhe recebe de um jeito, eu lhe recebo com ódio. Você já me fez sofrer demais e, infelizmente, eu não consigo amar quem me faz sofrer.

Sei que um dia você visitará a mim, mas não vou te receber bem. Peço que não se assuste, pois sabe que sou assim. Pode ser que vivendo eu vá amadurecendo e passe a aceitá-la, tratando-a com mais carinho.

Paulo diz na Bíblia que “o tempo que passamos no corpo é um longo exílio longe de Deus”. Mas como explicar isso para uma criança de 10 anos que perdeu o pai de 29 anos num trágico acidente? Como explicar isso para uma mãe que perdeu seu filho, sua criança de câncer? Como explicar isso a uma família que perdeu seu ente mais querido, mais amado de uma forma abrupta?

Nunca tratarei você como trato meus amigos. Faço-te, porém, um pedido: não leve mais ninguém que eu amo, pois se você fizer isso, anteciparei meu encontro contigo.

Fico por aqui, não quero sua resposta, nem quero seu encontro.

Saudações,