Carta aos loucos
Carta aos loucos
(texto produzido ao final da oficina de teatro ministrada por Rinaldo Genes. Nesta oficina encenamos uma peça em favor dos portadores de deficiência mental)
Nós, senhores e senhoras, não somos sórdidos.
Sórdidos são aqueles que não se apercebem o quanto precedem e se antecedem ao próprio mal, encarnando a perversidade, crua e cruelmente.
Sórdidos são vocês, senhores e senhoras, que criam leis, mistificando e dispondo de nossas vidas ao seu bel prazer e conveniência.
Nós somos quem carrega a alegria encerrada em coisa alguma... ou nenhuma.
Nós somos quem traça seus caminhos somente até o próximo e imediato passo.
Carpe dien é nossa bandeira, nosso manto, nosso mantra.
Somos de riso frouxo e choro fácil, muitas vezes simultâneos, mas de uma espontaneidade impar.
Portanto, parem! Por Deus, contenham-se!
Desnudem-se verdadeiramente de seus preconceitos.
Não nos reneguem, por Deus, não nos neguem e nem se neguem à brandura e à bravura de se tornarem humanos de fato.
Somos carne, somos suor, somos espírito... Somos alma.
Somos infantes, mas não nos considerem tão ingênuos a ponto de não percebermos a sua repulsa. Apenas a tratamos diferentemente do que VOCES consideram normal. Apenas a percebemos como sendo um ridículo procedimento momentâneo seu. Pois, para nós, é preferível e lógico agir assim.
Analisem racionalmente: será uma permuta, uma mutualidade de atitudes. Vocês nos aceitam como verdadeiramente somos e nós aprendemos a conhecer suas almas.
Quem sabe, assim, vocês sejam um pouquinho menos tristes!