Permissão ou indulgência?
Será uma longa carta.
O que eu poderia lhe dizer?
Do cotidiano?
Desse mundo mundano?
Ou das flores que colocaram no túmulo dos heróis da resistência?
Esses assuntos já nem esbarram mais em emoções.
Preciso lhe emocionar.
Quando foi que derramou a última lágrima?
E por quem?
Por quem choraremos juntos?
É. Temos que chorar juntos.
Senão, como entenderei sua emoção?
Como entenderá a minha?
Não se lembra da última lágrima?
Eu sei das minhas...
Aliás, algumas nem chegaram ao queixo ainda.
Estão fazendo o caminho das faces...
Choro pelos santos e santas.
No momento, choro pela santa ignorância.
Porque ela é permitida.
Porque ela é pueril, apesar de
E porque ela é, precisa e
indecorosamente, presente.
O que sabe de mim? E o que sei de você?
Não nos sabemos.
Nossa santa ignorância não sabe que podemos ser inversos.
De todo e qualquer verso.
De toda e qualquer filosofia. De todo e qualquer pensamento.
Sabia que eu não me sacio da fome?
Eu sei que não sabia.
Nunca lhe contei.
E sua percepção não chegou lá...
Minha fome possui vários nomes:
fome de justiça, fome de valores,
fome de sabedoria,
fome de amor - tanto do
universal quanto do amor bandido
(aquele amor que rapta nossa fortaleza
e sequestra nosso equilíbrio)
Sabia que sou insaciável nessas fomes?
Não sabe.
Teria que quebrar regras para saber.
Teria que escalar rochedos.
Teria que navegar oceanos.
Tente fazer o meu trajeto
e poderá chorar comigo
se eu deixar...