CARTAS AO LEO
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Campo Grande, setembro de 2009
Poderia lhe escrever uma bela história sobre o que chamamos de “levar uma rasteira da vida” e a sua consequente, inevitável, queda. Não me faltariam argumentos. Mas poderia faltar-me a eloqüência de um bom escritor. Em compensação, caro amigo, quero lhe apresentar um belíssimo poema de Millôr, que tem a eloquência que me falta, galvanizados por bons argumentos sobre:
A QUEDA
É terrível cair.
Não é apenas o orgulho que cai
Quando caímos,
Mas toda a segurança interior
Equilíbrio de cérebro e pessoa.
Caindo nos perdemos;
E alguma coisa fica lá em toda queda.
[...]
Os que já caíram,
No Paraíso, na rua, na História.
Na escada caiu Fidel.
Na aventura da Alice,
Caiu à própria Alice.
Caiu a mãe de Hamlet,
Caem as folhas no outono,
Mais triste quando cai à tarde.
E depois do primeiro homem
E da primeira mulher
Todos os grandes caem
Em seu dia e hora.
Caiu Saul, e Jonas, e Golias,
E também os muros que cercavam
Os poderosos donos de Jericó.
Caiu Tróia e caíram os Romanos.
Há grandeza nos que caem.
Não se respeitam, porém, as decaídas.
A gravidade é a negação da vida
Desde a invenção dos tempos.
Console-se, Leo, nós não fomos os únicos que tivemos a infelicidade de "levar uma rasteira da vida".
Com a certeza de que você irá levantar-se rápido, aqui faz ponto seu amigo.
Ricardo Sérgio.
Inté!
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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquercomentário.
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