Eu temo você
É difícil sair do casulo.
Ficar enrolada nos fios dos pensamentos
Debruçada na própria imagem
escolhendo entre o medo e a coragem
e por fim, constatar, que o rio continua transportando águas.
Nem tão límpidas, nem tão salubres
e, no entanto, executando a sua função independente do que.
Dói saber que esta mudança não altera em nada o curso do rio.
Ele irá se juntar ao mar nem que demore uma eternidade.
E, logicamente, não quererá saber se sou folha ou outro
detrito em meio as suas águas.
É necessário sofrer a metamorfose.
Seria pedir muito desistir de ser borboleta?
Ficar a cismar envolta num casulo?
Sem me ferir?
Há um mundo estranho.
Povoado de pessoas estranhas.
Eu sou estranha.
Porque entendo a sua alegria.
Porque aceito a sua dor.
E, sou estranha, porque temo.
Temo a sua bondade.
Temo a sua solidariedade.
E temo a sua tolerância.
Você possui o dom da aceitação! Como consegue?
Como pode continuar com sentimentos tão nobres
habitando este mundo estranho?
Eu temo você como pessoa.
E por temer, fico no meu casulo.
Sem a metamorfose de asas.
Por isso, saiba que não estarei sobrevoando seu espaço.
E nem saudando suas flores.
Ficarei em meu casulo.
Até que eu perca o meu temor por você.