Reflexos

Caríssimo,

Havia no céu uma luz estranha, de uma força também estranha. Por fora um sorriso flácido, amedrontado. Por dentro um medo premente. Ausente estava a coragem, que fugira ao sentir a presença latente da angústia cega. Corri. Fugi. Ora de mim, ora do mundo. Larguei-me numa estrada sem rumo, tão reta que jamais firmei uma curva no olhar.

Inúmeros porquês atormentam meus pensamentos agora. As lembranças de outrora não permitem delimitar o tempo, de modo que tudo é presente, mesmo que tenha ficado no passado. O tempo corre mas, continua parado. O vento passeia no tempo e não refresca jamais a alma.

Olha para dentro de mim e o vazio é tudo que enxergo até onde a vista alcança. Parece que a vida murchou lá dentro.

Sei que a ótica não ilusiona meus olhos! Vejo claramente o deserto consumindo o resto de mim. Mas também vejo que este deserto esbarrou num pequeno tronco que não se deixa consumir. Creio que seja o começo de mim falando mais alto.

Nesse passeio dentro de mim encontro uma janela que se abre para um mundo ao qual o broto de mim almeja. Há um palpite de esperança pairando no ar.

Sinto que depende de mim crer que posso nascer de novo. O que não sei é como me desprender do esquecimento que plantei em mim mesma.

Preciso desfolhar as lágrimas que acumulei no espaço que avida reservou para a minha felicidade. O espelho me diz que estou viva, apenas não sei acreditar.

No fundo sei que quero nascer, quero ser, quero preencher todo o vazio que insistir tornar-se grande.

Mesmo sem paredes, sei que os meus pilares são fortes. Mas vou partir sem o abraço, pois todos já te dei. Só espero não secar a tinta que pinta meus caminhos, nem manchar o calor que ainda tenho no fundo de mim, pois mesmo sem paredes ainda sinto-me em pé.

Aguardo o sorriso seu para confirmar-me na história de uma vida pura. Até lá, só espero.