Sobre marolas e tsunamis

Olá, D.... Luz e paz pra vc. Saúde pra sua filhinha. Amor pra toda a família.

Lendo seu e-mail, pude perceber mais uma vez que a vida não gira ao redor do meu umbigo. Que semana a sua!

Não sei se posso, mas se vc achar que não, descarte e me diga, por favor. Não nos conhecemos pessoalmente e não sei se estou interferindo.

Não é conselho, é experiência de quem, imagino, seja mais velha que vc. Tenho 52 anos.

A vida é luta!(Nietzsche) A vida de algumas pessoas são verdadeiras guerras atômicas. A minha já foi assim!

Como sou pacifista, prefiro pensar que a vida é "como uma onda no mar"(Lulu Santos). Às vezes uma marolinha(lula), às vezes uma tsunami.

Para algumas pessoas, parece que a vida é um eterno tsunami. A minha era assim, pensava eu.

De fato, minha vida não foi fácil. Já vivi quase de tudo e tudo muito intensamente.Ganhei e perdi pessoas, marido, casas, etc. Como disse, era uma constante tsunami. Desenvolvi a doença (TCC*) pra poder ficar forte e me proteger. Vã ingenuidade!

Tive câncer, dois pra ser boazinha comigo! Com a ajuda de Deus eu me curei.

Mas uma coisa eu percebia, entre as tsunamis tinha calmaria. Entretanto minha mente não se aquietava, estava sempre em alerta esperando pela próxima tsunami.Eu me sentia a infeliz das infelizes!

Depois do câncer comecei terapia com um anjo. Eu não podia pagar e ela bancou meu tratamento. E num belo dia, cheguei a um ponto estranho: Eu tinha pavor de ser feliz, de ter paz, serenidade. Eu que tanto buscava por isso... Não era uma ambiguidade?

Fui em busca de resposta, com a ajuda da Isabel.

Em Florianópolis tinha uma escola de meditação do Brahma Kumaris. E ali aprendi a apaziguar e aquietar a mente. Devorei livros e mais livros da teoria deles, budismo, hinduísmo, e tudo o que me vinha à frente. Livrei-me do preconceitos dos livros de autoajuda. Vale tudo qdo a gente está em busca de si e o conhecimento acadêmico não dá conta. Eu queria ser feliz! E milagrosamente, minha mente foi se aquietando...fui adquirindo paz, serenidade, desenvolvi a alegria de ser.

Sou humana, às vezes caio e permito que minha mente volte a reinar em tsunami. Entretanto não gosto desse barulho, nem de ser infeliz!. Volto logo à serenidade...

Descobri também que o tamanho do meu sofrimento é a dimensão que dou a ele. Que tudo passa, até as coisas boas. E que se a vida é luta, não sou melhor que ninguém. Amém! À luta, sou guerreira. Olho pros meus problemas e aceito-os. Está é minha vida...

Qdo vc me escreveu pela primeira vez, eu estava passando por uma tsunami. Já fazia dois meses que tudo, estava sendo mexido de novo. Uma nova tsunami me pegara desprevenida. Lembra: vigiai e orai? Esqueci-me disso. Eu estava tão bem, tão solta, tão leve... Rubem Alves diz que sorte a nossa termos doentes da alma, os poetas. Por que a felicidade emburrece. Era esse estado que antigamente eu temia, pois, como tudo muda, e até que se equilibre novamente, a gente fica meio sem chão.

Parei, aquietei e olhei pra minha vida novamente e ao aceitar que não podia fazer nada com as contingências, eu não podia controlar, aceitei o que estava acontecendo, da saúde à materialidade.

É mágico assim! As nuvens negras e pesadas começaram a dissipar-se e eu pude ver entre elas o brilho do sol novamente. Qto mais me fixava no sol, menos nuvens eu via...logo, o céu estava limpo novamente e o mar voltou a se acalmar. É claro que tenho muita coisa pra botar no lugar, muita sujeira pra limpar. Mas à luta, companheira! C'ést la vie!

Um beijo em tua alma, fique com Deus, serenidade, paz, saúde e muito amor na sua jornada,

Darlene

* TCC: Transtorno do Comer Compulsivo

Darlene Polimene Caires
Enviado por Darlene Polimene Caires em 18/09/2009
Código do texto: T1817039
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