Quatro meses...
Olá... Você já imaginava que eu iria escrever uma carta, não é mesmo?
Faz tanto tempo e tão pouco tempo...
Foram cento e vinte dias inesquecíveis... Nunca havia me envolvido com uma mulher como você... Foi tão legal a maneira com que fomos conquistando um ao outro...
Você é uma pessoa da qual jamais vou me esquecer... Você é uma moça tão marcante, tão interessante... É verdade que, às vezes, você me deixa bravo, mas faz parte...
Minha vida sempre foi o silêncio o ponto marcante... O silêncio de um pai no vazio de uma sala... O silêncio de uma convulsão no vazio da possibilidade de evitar... O silêncio da mente em contraste com ronco feroz de um motor num “racha”... O silêncio de uma bala detectada apenas quando atingia algum alvo próximo de mim num tiroteio na polícia... O silêncio de uma linha de “pó” esperando eu me matar com ela aos poucos... O silêncio do beijo de outras mulheres que tive e que nunca conseguiram me dizer algo... O silêncio... Minha única companhia nestes meus anos de vida...
Aí surgiu você... E foi no silêncio do seu olhar que eu me apaixonei... Antes de ouvir a sua voz, antes de sentir o seu perfume... Antes mesmo de saber o seu nome...
Foi nesse primeiro instante que minha vida mudou... Minha vida foi sempre ouvir palavras secas, palavras vazias, caladas... Sempre mãos, bocas e corpos que me trouxeram muitas vezes um amor verdadeiro, um amor pleno, um amor que eu não consegui sentir...
Eu atravessei madrugadas, dias, em busca de sentir, de “ouvir” a voz do meu coração, escrevi poesias: “Silêncio, por que me acompanhas, se minhas tormentas já são tamanhas...”... ”Sinto tua presença raptando meu sono, teu olhar me mostrando abandono...”... Vivi por esperar cumprir minhas palavras escritas nessa poesia: “Silêncio, temos que nos separar, você precisa me deixar seguir e só voltar a existir quando conseguir se calar...”
Mas então surgiu você... Sim, eu sei que você é uma pessoa difícil, de gênio forte... Mas também sei que você tem um coração muito belo, tem muita dignidade, é amorosa, fiel, correta... E linda de morrer...
O meu silêncio aos poucos foi morrendo, foi dando lugar aos sons do amor, da confiança, do carinho...
Não é fácil entender seu jeito de amar, mas aprendi um pouco já... Vou aprender mais... Você mudou muito nestes últimos trinta dias desde nossa reconciliação em momentos quase não reconheço você de tão melhor você está... Hoje não posso negar que você gosta de mim, tanto quanto eu gostaria, você demonstra hoje ter por mim um sentimento forte... Aprendi muito sobre você e com você...
E por isso estou feliz... E a quero feliz... Muito feliz... Tomara que possamos continuar juntos... Por muito tempo... Do fundo do meu coração... Beijo...