CARTA A GLÓRIA PEREZ
Aqui lhe escrevo simplesmente na qualidade de telespectador que aprecia novelas, e que em tempo algum sentiu tanta vontade de falar depois do término duma obra de teledramaturgia, como esta que chega ao seu final, a telenovela " CAMINHOS DAS ÍNDIAS".
Fico aqui tentando encontrar uma palavra que qualifique todo o meu sentimento de satisfação.
Difícil.
MAs vou me valer do adjetivo...IMPECÁVEL, e dele me aproveito para fazer um falso trocadilho: literalmente e literáriamente "sem pecados".
Tenho para mim que escrever é muito mais que um dom.
É um a árdua missão.
O papel de quem escreve é transbordado de responsabilidades, principalmente quando se escreve algo para se soltar ao ar, num horário nobre e numa televisão recorde em audiência no país, e que dita modelos de comportamentos nos diversos setores da sociedade.
Longe de mim a ideia pueril de acreditar que após o término da novela todos irão meditar (risos).
Tal meditação anda muito difícil por aqui.
Porém, também julgo o quanto deva ser difícil escrever uma obra SEM APELOS comerciais, o que quero dizer, não se render desenfreadamente a outros interesses que não artísticos, a ponto de não se comprometer o cerne da mensagem principal e o valor artístico independente do todo da obra que se escreve. E você o fez com maestria.
Não foram poucas as vezes que me senti agredida e entediada por novelas apelativas (excessos de violência e de sexo) e sem propósitos bem definidos.
Muito diferente o que senti em "CAMINHO DAS ÍNDIAS".
UMA OBRA DE INTENSO VALOR ARTÍSTICO E CULTURAL, que albergou a dramaturgia da elite dos artistas brasileiros, que nos agregou um certo conhecimento e entendimento de nuances duma belíssima e tão sábia cultura milenar tão distante da nossa e que nos deixou grandes mensagens, talvez o ponto máximo que aqui gostaria de frisar.
Digo " um certo" porque entendo que para uma cultura milenar, não se conseguiria sequer uma vida para conhecer as entrelinhas do seu todo.
CAMINHO DAS ÍNDIAS é um exemplo concreto de como é possível se prender o público "alvo da arte" se valendo do talento para se fazer dramaturgia. Tal premissa não é tarefa fácil, num mundo ávido por "enlatados".
Você Glória, conseguiu com esmero o trabalho de personagens sérios, valendo-se dum leve humor eternecedor, soube nos fazer pensar, discernir, acreditar, encantar e chorar.
Uma obra que resgata valores já tão esquecidos pela nossa sociedade ocidental.
Nada melhor do que esta sensação de plenitude que sentimos ao fechar as páginas duma história. Chego a lamentar pelos que não a assistiram.
A você GLÓRIA PEREZ, só me resta aqui lhe agradecer, a meu ver, pela principal mensagem da sua obra, a de que apenas o "Amor Universal", aquele que deveria permear todos os espaços do nosso tempo, desapegado dos acessórios dos vícios humanos e aliado à aceitação das nossas diferenças, é que nos levará a construir aquela que deveria ser a maior obra da história da humanidade: A PAZ.
Numa grande obra até mesmo a utopia se torna realidade.
Saudações e reverências, Glória.
MAVI.
Nota: e a polêmica já começou aí embaixo...risos.
É isso que me encanta nas letras, a força do pensamento expresso em palavras...