2ª Carta ao Amor
2ª Carta ao Amor
Delasnieve Daspet
Sexta feira à tarde.
De novo chuva. Acabou a energia. Procuro o que fazer. Acendi um incenso e me pus a recordar. Tarde de chuva é bom para as lembranças. O incenso de rosa tomou conta do sala, da casa, até as gotas da chuva recendiam rosas...
Nem imaginas! É uma chuva com granizo.... é tão bonito ver as pedras de gelo cairem e derreterem em contato com a água. O seu elemento.
Aqui dentro rosas, lá fora a água que retorna ao solo buscando seus mananciais.
Resolvi te escrever de novo. Lembra das tardes de chuva? Ligávamos o som. Baixávamos a luz.
Espera vou estourar pipocas e pegar minha caixa de saudades.
Estou olhando fotos.Lembrando. Cada foto uma historia.... É a vida que ficou pela vida... Acho que vou ler umas poesias e lembrar-te...
Aqui o soneto XI Neruda - "....tenho fome de tua boca, de tua voz, de teus pêlos, e pelas ruas vou sem nutrir-me, calado....". Neruda, chuva, lembranças, néctar com sabor de saudades.
A chuva continua lavando a terra. Eu à espera da noite e da luz que não chega. Chuva insistente.
Lembro-me que um dia, ainda na rua, sem esta ou aquela uma manga de água desaba e leva e lava as dores, e senti o corpo, a roupa, a alma molhados. O cabelo cansado, como eu, colado no vento, voava mundo afora, saindo de mim.
Estou como uma pessoa sem rumo, sem graça, com medo de ir ou vir... sou um barco de papel, encharcado e jogado na enxurrada... balançando, quase adernando, em busca de um mar...
Amor, onde estás? As saudades que sinto são tantas e quantas que delas e com elas somos apenas uma, sempre a espera....
Delasnieve Daspet
07-02-03 - 16,00 hs
Campo Grande MS