MINHAS HORAS TRISTES

Minhas horas tristes não as deixo passar em branco. Prefiro que passem em negro, cor da tristeza. Sou daquele tempo que quando estávamos de fossa pegavamos aquela "bolachona preta" chamada de "long-play" encontravamos uma faixa de "música de fossa" e curtíamos ali nossa tristeza, angústia, decepção. Sou ainda daquele tempo, mas felizmente,

o tempo não parou assim como minha atitude em relação à dor. Se substitui o velho long play por um cd os motivos de minha dor vão além

da decepção por um relacionamento frustrado. Acho que aprimorei os motivos que me levam à dor. Acredito que hoje sofro não só por isso, nem só por mim, mas por mim e por outros.

Se estou triste, com razão curtirei minha tristeza, sentimento inerente ao existir. Jamais colocarei uma música alegre a afrontar minha tristeza, qualquer que seja ela. Minha tristeza é digna, assim como minha alegria, mas salvo engano, meu Deus, como sofrem os humanos e como se encontram quando compartilham seus sofrimentos.

Entrego meu corpo cheio de cicatrizes para que você mergulhe sua alma. E que nesse mergulho algum consolo dessas marcas indeléveis de minha existência surja para cauterizar ou estancar o sangue de tuas recentes feridas. É o que mais posso te oferecer. E, se por acaso ainda não bastar te darei um beijo nos lábios para que possa sentir o mel impoluto e puro a estancar tua dor.

Odair Perrotti
Enviado por Odair Perrotti em 03/09/2009
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