Caríssimo,

Algumas foram as vezes que juntos, deslizamos naquela polida e bem untada rampa. De forma irresistível, ela nos conduziu a uma misteriosa e hermética sala de sólidas paredes brancas desprovidas de janelas, iluminada por uma solitária e estranha lâmpada de luz fria no centro do teto.

Sentado na única e confortavelmente desconfortável poltrona do recinto, deixei-me arrastar por suaves vozes que sussurravam aos meus ouvidos melífluas palavras de convite ao abandono. Nesse interím, tu partiste, de forma frenética, em busca de uma porta maleficamente dissimulada em algum ponto da ofuscante monocromia das quatro paredes que nos aprisionavam!

Pela força da tua razão, que é a razão da tua força, a cor das paredes desbotou, ao mesmo tempo em que na porta surgiu, pintado, um colorido sol com olhos sorridentes! Um dos olhos piscou maliciosamente e eu não resisti ao impulso de levantar da maldita poltrona e empurrar a bendita porta...para a Liberdade! Para a nossa Liberdade!

Sou-te muito grato, meu preclaro, apesar das nossas divergências, pelas vezes que me salvaste de mim próprio e, de quebra, anda me mantiveste afastado dos shrinks.

Um abraço e até à próxima mukanda
 

Gravura: "The Thinker" - By Candy Barr
Luis C Nelson
Enviado por Luis C Nelson em 30/08/2009
Reeditado em 06/09/2009
Código do texto: T1782375