ATÉ QUE AMANHEÇA

Não percebi que fiquei por horas aqui absorta a contemplar o nada. Meu pensamento estivera em uma outra dimensão. Ontem tu estavas aqui, sentado neste mesmo degrau. Algo em mim dizia que aquela noite seria a última. Como um presságio... Respiro fundo agora e tento, por um segundo, esquecer. Como? Ensina-me a arrancá-lo do meu corpo. Ensina-me a abortar essa dor que lateja dentro de minha alma. Mesmo que eu sangre até morrer, mesmo que eu chore um oceano! Por quanto tempo isso é suportável?

Está anoitecendo, meu amor. E sinto-me presa dentro de mim mesma. E não consigo chorar. E não consigo correr. E está anoitecendo... O desespero de saber que outra percorrerá os caminhos que até ontem só pertenciam a mim. Eu sabia o percurso, conhecia os atalhos. E outra... provavelmente velará teu sono. Compartilhará contigo o amanhecer que ontem foi nosso.

Está anoitecendo e não me importo em acender as luzes. Que tudo fique na escuridão. Eu não saberia reconhecer as cores sem tê-lo por perto. Que eu continue aqui neste degrau. Até que amanheça...