Uma carta, um confessar...

Uma carta, um confessar...

Quero me contar para ti.

Quero te contar,

Dizer,

Quero que saiba,

Quero contar a ti quem sou, dos meus dias, do que vai ao coração, do pensamento vão, das letras vazias repletas de esperanças.

Quero contar uma história, como na canção, para que tu saibas a cor dos meus olhos, da luz que vem deles sem disfarces, do que se esconde por trás da retina.

Preciso que saibas que vejo flores onde há muros, concretos. Que o Rio Guamá é a minha alma enamorada quando chora por ti.

Quero dizer do que não transige, transpõe calmarias, do que dá travo amargor ao doce do simples “ SER”. Do que inquieta, incomoda, trás frio.

Quero te contar que tenho uma arte dentro do peito. Que o invólucro breve que me comporta é feito de delatadas sensações. Líquida alma que comporta, derrama, fala via poesias.

Quero que saibas que borboletas e flores estão em mim, fazem aliança, comum acordo de que juntas temos em igual a liberdade, que vem plena na primavera.

Quero contar que sou entre verdes e azuis, que porto aroma de plantas e da natureza pego emprestado a euforia, para meu ser enfeitar.

Sabe te conto que um largo alegrar por vezes esconde um triste sentir, incompreender.

Às vezes o belo é só máscara que confere ao Pierrô um ar de rasa alegria.

Quero,

Preciso me contar para ti...

Esse contar com ares de confessar,

Um dizer que quer descrever, pintar para ti a tela que sou. O que há em mim que teu olhar precisa averiguar. Preciso decifrar.

Mas, se aceitas o meu olhar emprestado e despe-te dos limites, previsões e certezas, de certo me verás delimitada que sou pelas cores do Arco- íris.

Agora já posso te mostrar, mas, por favor, ignora o recipiente, o pote se arruma gracioso, mas um leve destampar e já verás o que não se palpa. Agora estás vendo o que sente-se, aspira, absorve.

Quero te contar do meu desconhecer, do que me vai distinto a cada dia, que deixa diversa, a deriva, incoerente e exposta em transparências para que tu me vejas. Saibas-me de vez.

Quero te contar de mim.

Dos acertos dos erros, da fogueira das vaidades, da doce rudeza, do gostar desmedido, do amar por amar, do enamorar o Verde, do olhar intrigante, intrigado, das indagações, voracidade que compõe os desejos que me determinam.

Quero que saiba que sou da vida um verso, do Pará uma poesia, do belo do meu lugar uma rima ditosa. Da vida um musicar.

Quero te contar de mim.

Contar-me para ti.

Desnudar o interior, despir véus, lançar ao palco luvas, chapéus.

Andar para ti na corda bamba dos inconfessos quereres, jogar fora a máscara, lavar a alma, rasgar os moldes, desfazer as formas, apagar o caminho de volta, atirar textos ao léu. E então olhar-te no cristalino, me enxergar dançando faceira no palco do teu coração. Sem pressa ou culpa.

Quero que saibas de mim.

De mim, por mim.

Tanto e infindável que aprofundarás o navegar quando nos meus sonhos adentrares. Invadires o meu meditar e silente entenderes meu calado jeito.

Das palavras te desfizeres e apenas e tão somente entenderes o Lume de um olhar.

Roseane Namastê
Enviado por Roseane Namastê em 25/08/2009
Código do texto: T1773257
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