E HÁ ALGO MAIS POR AQUI? (carta de amor em forma de poema )
Veneno em cálices,
vinho branco,
gota a gota desse barbitúrico
que você me serve...
Sono induzido ao anoitecer,
(você se embriaga?)
velhas canções,
arrepios,
a lata rolando rua abaixo
debaixo do sol a pique
no asfalto escaldante
faz ruído sincopado
de uma só nota...
Vida pouca, vindo daí,
ouvidos moucos (os teus)
à ladainha desta pedinte
de mãos estendidas,
solitária que navega
num espaço sem Norte
E um não chegar nunca
ao oásis neste deserto
de palavras desconectadas,
signos distantes, capengas.
Quem sou eu pra você,
sou essas palavras?
( E há algo mais por aqui?)
E se não elas quem seria eu, então?
Um corpo em forma bem arranjada,
os olhos, as mãos, o vestido,
o cheiro, o calor, o gosto...
talvez você gostasse de uns silêncios
sem palavras, que já tem tantas...
e de pés pisando o teu chão
distraidamente...
e de trazer uma flor aos meus cabelos.
Talvez você gostasse de ver o meu espanto
diante de uma inesperada ousadia
e de que eu o surpreendesse a olhar
atrevido para o arremate de meu decote.
Mas estes volteios pertencem ao mundo real
e nós padecemos de uma essencial falta
dessa matéria mais densa, onde a vida
tem sangue quente, aromas e mãos ansiosas;
Aqui nossas ânsias se comprimem em um
escasso retângulo, formado de teclas-signos
e toda a nossa humanidade
se acomda em uma cadeira giratória.
Eu me perfumo pra você não sentir
eu sorrio e você não vê
e seu eu choro, a solidão é redobrada
pois mais sozinho está quem tem
o outro em signos nesta tela
do que aquele que não tem ninguém!
Em 05 de outubro de 2007
pois mais sozinho está quem tem
o outro em signos nesta tela
do que aquele que não tem ninguém!