Carta - Não importa o quanto vai durar...

Inesquecível...

Já é noite e estou muito só. Senti, então, uma vontade enorme de te escrever...

O dia foi também muito tristonho, propício para pensar, refletir, sonhar... Pensei muito em ti. Tentei espantar as tristezas do dia. Resistir às saudades... Afugentar a angústia que a tua ausência me faz, fortalecendo-me apenas com as lembranças de nossos momentos lindos de ternuras. Entretanto, não fui muito feliz na tentativa de afastar a tua saudade, por mais que tentasse. A tua imagem anda à minha frente... Passeia à minha volta, como as sombras nos jardins. Abro os meus olhos e vejo-te sorrir...Fecho-os, e vejo o teu olhar cheio de ternura, a dizer-me frases indecifráveis...

Sei que tu és um mistério na minha vida.Assim mesmo eu me pergunto: O que haverá de tão misterioso entre as nossas vidas, que nos une tanto e nos envolve tanto?

Chegamos ao beijo. Porém não nos entregamos um ao outro. Como um barco à algumas milhas do porto, querendo atracar, mas, sendo arrastado pelas correntes e ondas, em direção à tempestade que se aproxima. Claro, que houve a intenção, apenas a intenção. Quis ser tua naquele momento e queria que também fosses meu...

Trago em mim as marcas das algemas invisíveis, que me aprisionam a este barco, ancorado no mar da ilusão. São as algemas, incondicionais, todas feitas de sentimentos impossíveis. Basta que me olhas, na expressão do meu rosto! Trago estampado, o desejo de descansar das longas jornadas, com a fronte reclinada em teu peito, sentindo-me protegida nos teus fortes braços.

Odeio a distância que me separa de ti.

Odeio as minhas condições, que me castram profundamente; que me mutilam diariamente os gestos e os desejos. Todas essas coisas eu as combato, quando consigo imaginá-las muito pequeninas, quase insignificantes, diante do meu grande amor por ti. Ele se liberta de tudo, e se lança em tua direção, forte, resistente, como um gigante.

Já te disse tantas coisas. Já nos falamos de quase tudo. Caminhamos muitos passos juntos. Já nos abraçamos com força e nos beijamos, fechando os olhos para o mundo, para vermos apenas um ao outro. Porém, pudemos ver a nós mesmos... Em mim vi que há de restar a solidão. Em ti, vi que há de sempre haver um coração cheio de amor, pleno de felicidade, porque já te encontrei assim, e tão tarde nessa minha caminhada. Parecias de nada precisar... Apenas deste-me o teu braço para erguer-me, quando precisei. Abraçada em ti, tentei desfolhar a solidão, dizendo-te palavras de suave encanto, conquistando-te a confiança. Nos passos caminhados, fui feliz.

Sei que uma distancia maior, intransponível irá nos separar muito em breve. Essa distância não só me separará de ti, mas de algum outro que quiser um dia, achegar-se junto a mim.

Quero ser tua e amar-te eternamente.

Já sou tua no meu pensamento. Isso eu não preciso desejar. Acariciastes o exterior, enchendo o meu corpo, com o teu calor, sem despir os véus que cobrem o meu rosto, fazendo-me sentir como um barco que toca na areia da praia, matando a solidão de tantos mares.

Quero amar-te... Até quando não importa. Creia-me, não me importo. Porém, diga-me que é para sempre; que iremos atingir a eternidade, como as raízes que crescem para dentro da terra. Que as sementes ora lançadas possam crescer nos nossos corações, e enche-las de tais raízes de amor, amizade e compreensão possam deles brotar...

Ontem eu era o Outono. Hoje, eu sou a Primavera. A estação que mais amo. No meu coração brotam flores nascidas nas manhãs da nossa amizade. Nascidas das carícias que ainda queimam no meu rosto.

Com o rosto entre as tuas mãos pedi-te que me fitasses, dizendo-me que gostavas muito de mim; que não sentias vergonha de mim... Nunca o senti tão profundamente. Pude ver lá dentro, no infinito do teu olhar. Jamais irei esquecer. Foi como o calor de um vento forte, capaz de varrer do meu corpo todas as folhas secas, que ainda resistiam à minha primavera... As folhas secas das angústias , das constantes dúvidas, da ausência de tudo...

Quando me abraçastes forte, pensei: Não importa o quanto vai durar! Irei viver esta estação com toda a intensidade do momento. Lá longe, na porta da solidão, abristes uma brecha, sem saber e sem querer, e por ela entrou os raios do sol que tanto quis que brilhassem na minha vida. Desses raios de sol em mim agora nascem flores...

Isso é tão meu, é tão teu também ao mesmo tempo, meu querido, que mesmo que um dia, me deixes, que partas, e mesmo que o que restar em mim, se envolva pelo frio que a distância envolve, as raízes das sementes que tu lanças em mim haverão de brotar e florescer, rompendo-se obstinadas, contra a tua ausência, o teu esquecimento, o teu adeus...

E jamais me sentirei só...

Não importa o quanto vai durar. Diga-me que hoje é para sempre, mesmo sabendo que tu não me amas.

Nunca mais me diga que cheguei tarde em tua vida. Eu sei que cheguei. Mas, prefiro pensar que cheguei na hora que mais precisei de ti. Na hora de mostrar a mim mesma, que o amor é capaz de quebrar todos os nossos grilhões, que nos impedem de sermos felizes.

Enquanto dure, diga-me que vamos atingir a eternidade... Assim como estamos, e eu me sentirei pequena, como me sinto sempre diante de ti, enquanto o meu corpo treme, receoso por temer tanto o fantasma de tantos desejos insatisfeitos.

Tua, sempre tua Iraí.

Iraí Verdan
Enviado por Iraí Verdan em 21/08/2009
Reeditado em 24/02/2012
Código do texto: T1766504