Canto ao Vento
Quanto às remoídas lembranças, as esqueça em qualquer corredor, jogue-as sobre quaisquer traços de lençóis quebrados, lance-as em qualquer castigo. Pois, o que quero me tornar hoje é teu fogo nos indevidos sarcófagos frios, das noites mais soturnas.
Quero ser tua sombra em desertos infinitos. Em dias de queimar os pés, ser o teu chão para acalmar os tormentos, teus cansaços. Tornar-me chuva, quando teu coração estiver seco pela amargura.
Quero em ti adormecer, e caber na palma da tua mão. Quero viver, no êxtase da essência do teu olhar, no cântico soberano da tua fragrância, me fortalecer com a tua voz.
Jus em mim, o amor que clamei ferido, rezei pecador, sonhei feito criança. Em ti encontrei, quanto como santificar de uma escuridão surda, o raio e o trovão que devastou as ruindades, o dilúvio que lavou o meu espírito. Por ti ceguei meus sentidos, para escutar somente tua respiração, e assim, me mantendo em paz.
Quero ser teu ar, se faltar.
Quero ser tua água, para saciar.
Quero me tornar teu único, para te amar.
Quero te amar.
Quero que me conceda o árbitro para me semear em ti, porque preciso renascer e colher bons frutos.