Minha viagem ao sertão

O sertão é a razão de ser do sertanejo. A viagem que fiz foi maravilhosa. Percorri cantos e recantos desta terra meiga e febril, encravada no coração do Brasil. Bebi e sorvi a sublimidade desta criação peculiar e única. Vi a fartura e a carência, o contraste de todas as coisas. Assim, de modo inesperado, visitei o sertão. Foi bom conhecer novas terras, cidades, povoados, serras, rios, gentes e clima. Descobrir e relacionar, colecionar e catalogar na mente todas estas novas informações que me deram tanto prazer. Acreditei que havia encontrado a felicidade!

Tive a grata satisfação de conhecer pássaros e vê-los voar. Animais que contentes pela chuva corriam e pulavam, embrenhando-se nas matas. Grandes cenários que se abriam diante de mim, cheios de talentosos atores que desempenhavam com perfeição seus papéis. Tudo isto foi como viajar dentro de mim. Aspirar à imensidão e compartilhar a grandeza do universo. Sim, e mais do que isto, foi sentir a comunhão do pó, de onde viemos e para onde vamos.

Agora, cá de volta, nada mais resta a não serem lembranças dessa terra árida, que se apagam pela esponja do tempo. E a saudade que aumenta pela distancia das coisas que contemplei, nos doces instantes que percorri as suas trilhas e veredas. A minha alma sente falta da alegria espontânea daquela gente amável e sofrida. Careço da suave brisa das noites sertanejas, do céu pontilhado de estrelas, das estrofes compostas pelos grilos nas matas, do sentimento de estar cercado por serras e elevações, rios e árvores. Tudo isto me faz falta agora.

Tenho a sensação de não pertencer a este mundo, que ora me cerca, aqui ao escrever esta prosa. Todo este aparato de tecnologia, instruções codificadas, ar condicionado me sufocam. Ah! que me falta faz a liberdade que encontrei lá!

É verde a cor da esperança e azul a cor dos que sabem voar na imensidão deste céu alegre do sertão. Este ano foi diferente. Brotou o feijão, o jerimum, a mandioca, o algodão e o milho, a fartura e a vida. As cacimbas e cisternas, potes e telhados transbordaram e a alegria invadiu a face das crianças, antes sujas pelo pó que as chamava. Sim, é um espetáculo belo o renascer de uma esperança. Mas como disse, este ano foi diferente: choveu. As primeiras chuvas fizeram milagres, ressuscitaram da morte o sertão, chamaram de volta à vida as árvores esqueléticas e os rios arenosos. O verde dominou a paisagem. A esperança voltou. Os rostos enrugados do homem sertanejo voltados para os céus esboçaram sorrisos que eram como diamantes na presença de Deus, agradecidos pela vida que de novo era oferecida. Vi-os nos roçados a colher e me foi bela e inesquecível esta visão. É majestosa a grandeza desta transformação.

E foi assim que há poucos dias visitei o sertão. E sinceramente, fiquei impressionado com aquilo que meus olhos beberam. Vi a paisagem e fiquei feliz. Reconheço que uma parte minha se perdeu, se envolveu e se confundiu com aquela terra, ficando presa a algum contorno geográfico.

Não sei a razão da seca, nem as equações que fazem as nuvens serem estéreis. Mas acredito que hoje choveu no sertão do meu coração. Pouca chuva, mas o suficiente para fazer escrever a poesia da saudade!

Orlando Macedo Junior
Enviado por Orlando Macedo Junior em 14/08/2009
Reeditado em 19/08/2009
Código do texto: T1753156