A MEU PAI
O Pai, que era Verbo, se fez carne, para que humano e divino fosse o Filho.
Eu sou apenas humano, pai. E faço uso de uma premissa apenas como analogia. Aqui, e entre nós, não há silogismo.
Quando se quer dizer ou escrever algo a alguém muito íntimo, alguém a quem se ama verdadeiramente, dá-se às palavras um intempestivo embargo. Embargo, palavra cujo efeito sabemos tão bem nas instâncias do direito. Prefiro, então trocá-la por outro termo particularmente teu, quando me dizes haver faltado inspiração para criação de um texto: “Topar na laje”. Claro que a matéria prima (objeto da inspiração), está aqui. És tu. Faltam-me outras ferramentas para explorar esse garimpo, onde as palavras, como as preciosas pedras, nunca estão na superfície. Ocultam-se em profundidade. E eu espero encontrá-las até o final deste texto a cavar no arenoso e fértil chão minado de palavras soltas, para que, juntando-as, colha algo, embora que singelo. Reluzente, porém, à luz do meu pensamento, síntese do um amor indizível e indelével, devotado a ti.
Sei que estou à beira do piegas. O sentimentalismo me leva a esse precipício. Não o quero. Dá-me tua mão, como sempre o fizeste. E, embora lendo isto, teus olhos verão mais nítida e profundamente a minha alma silenciosa e líquida, no olhar cruzado ao teu, dizendo-te: eu te amo! Esta é uma sentença afirmativa que trocamos há anos, desde o berço em que tu me pegavas, totalmente entregue aos teus afagos, até hoje quando nossas mãos se cruzam, se apertam na intimidade da matéria de que procedo, envolvendo a alma que dividimos.
Comecei a escrever-te, sem saber como. Invoquei o Pai que me trouxesse o Verbo, pra que o verbo me levasse a ti. Perdi-me no gênero. Não te vi no soneto que tentei. Porque tu és o Soneto. O mais belo e perfeito soneto, cuja chave de ouro que o encerra está comigo e se chama coração. Nele repousa o verso que ainda não fiz, a rítmica estrofe em rima rara no inacabado soneto que talvez não diga. Mas ele se encerra numa gota de lágrima tal como a do sangue, da tua carne de que sou parte. Por isso digo-te fonte, digo-te refúgio, digo-te referência, minha Origem!
E este dia, que é dos pais, para mim é mais um apenas em que se renova e se fortifica cada vez mais esse elo entre o verbo e a alma, entre a carne e o espírito. Entre o pai e o filho.
Momento de te agradecer, pai. E o faço com uma frase com a qual me agradeceste uma lembrança nos teus 50 anos: “Você, meu filho, é o meu melhor presente!” Eu que o diga, meu “coroa enxuto!...” Gatão de muitos arrepios!... Retinas de minha mãe!...
De tudo que me deste e me tens a dar és tu o bem maior. Prossegue em mim a honra do teu nome, dádiva de ouro, selo de virtude, herança maior que a vida me antecipa o usufruto.
Permite-me compartilhar hoje este carinho com todos os pais, especialmente os pais escritores, e os pais destes também. Homens a quem Deus confiou a sagrada missão de construir seres humanos, de que depende a edificação do mundo.
Um beijo poeticamente afetuoso, transbordante na essência do que sou, porque me ensinaste a ser.
Teu filho,
Hermílio.
O Pai, que era Verbo, se fez carne, para que humano e divino fosse o Filho.
Eu sou apenas humano, pai. E faço uso de uma premissa apenas como analogia. Aqui, e entre nós, não há silogismo.
Quando se quer dizer ou escrever algo a alguém muito íntimo, alguém a quem se ama verdadeiramente, dá-se às palavras um intempestivo embargo. Embargo, palavra cujo efeito sabemos tão bem nas instâncias do direito. Prefiro, então trocá-la por outro termo particularmente teu, quando me dizes haver faltado inspiração para criação de um texto: “Topar na laje”. Claro que a matéria prima (objeto da inspiração), está aqui. És tu. Faltam-me outras ferramentas para explorar esse garimpo, onde as palavras, como as preciosas pedras, nunca estão na superfície. Ocultam-se em profundidade. E eu espero encontrá-las até o final deste texto a cavar no arenoso e fértil chão minado de palavras soltas, para que, juntando-as, colha algo, embora que singelo. Reluzente, porém, à luz do meu pensamento, síntese do um amor indizível e indelével, devotado a ti.
Sei que estou à beira do piegas. O sentimentalismo me leva a esse precipício. Não o quero. Dá-me tua mão, como sempre o fizeste. E, embora lendo isto, teus olhos verão mais nítida e profundamente a minha alma silenciosa e líquida, no olhar cruzado ao teu, dizendo-te: eu te amo! Esta é uma sentença afirmativa que trocamos há anos, desde o berço em que tu me pegavas, totalmente entregue aos teus afagos, até hoje quando nossas mãos se cruzam, se apertam na intimidade da matéria de que procedo, envolvendo a alma que dividimos.
Comecei a escrever-te, sem saber como. Invoquei o Pai que me trouxesse o Verbo, pra que o verbo me levasse a ti. Perdi-me no gênero. Não te vi no soneto que tentei. Porque tu és o Soneto. O mais belo e perfeito soneto, cuja chave de ouro que o encerra está comigo e se chama coração. Nele repousa o verso que ainda não fiz, a rítmica estrofe em rima rara no inacabado soneto que talvez não diga. Mas ele se encerra numa gota de lágrima tal como a do sangue, da tua carne de que sou parte. Por isso digo-te fonte, digo-te refúgio, digo-te referência, minha Origem!
E este dia, que é dos pais, para mim é mais um apenas em que se renova e se fortifica cada vez mais esse elo entre o verbo e a alma, entre a carne e o espírito. Entre o pai e o filho.
Momento de te agradecer, pai. E o faço com uma frase com a qual me agradeceste uma lembrança nos teus 50 anos: “Você, meu filho, é o meu melhor presente!” Eu que o diga, meu “coroa enxuto!...” Gatão de muitos arrepios!... Retinas de minha mãe!...
De tudo que me deste e me tens a dar és tu o bem maior. Prossegue em mim a honra do teu nome, dádiva de ouro, selo de virtude, herança maior que a vida me antecipa o usufruto.
Permite-me compartilhar hoje este carinho com todos os pais, especialmente os pais escritores, e os pais destes também. Homens a quem Deus confiou a sagrada missão de construir seres humanos, de que depende a edificação do mundo.
Um beijo poeticamente afetuoso, transbordante na essência do que sou, porque me ensinaste a ser.
Teu filho,
Hermílio.