Saudades do dia que se foi...

Sinto-me distante das minhas primeiras letras. Hoje as rebusco em gavetas gastas pelo tempo. Agora que as encontro e as tenho em minhas mãos e diante dos meus olhos, fico feliz. Apesar da inflexibilidade do tempo, encontro-me nestas longínquas letras e poesias. Acho-me na obrigação de expressar alguma coisa, ou mesmo, saborear este instante maravilhoso de reencontro. Unir-me em pensamento e emoção com o lápis e o papel, deixar afolhar na superfície branca desta folha, o passado e o presente; fazer saltar e borbulhar das recamaras profundas do coração e da alma, todos os segredos e imaginações. Aqui e agora é um bom momento para unir as águas que já correram pelo leito do tempo com as águas que fluem neste instante e passam por mim. Não serão as mesmas?

Vou tentar rascunhar meu sonho: é como traçar riscos no vazio do espaço que se estende à nossa frente. É um enigma da imaginação, um monte de letras sem sentido impressas, um retrato imóvel de um momento impreciso. Até aonde corro o risco de ir, nos limites da mente e do pensamento, deparo-me com tesouros escondidos na distancia, pedras preciosas da filosofia e da poesia. Algo oculto da maioria, almejado como a safira.

O violino toca suave, enlevando e enaltecendo a dor da saudade, dos tempos que passaram, dos risos, das brincadeiras de criança, das descobertas, das viagens internas e externas. A música tão bem executada por este anjo torna o ambiente cheio de algo notável, belo, raro até, de uma harmonia sem fim.

A poesia é uma bela ninfa: atraente, cheia de vida, que acredita em nós, os poetas. Ela espera pacientemente pelo esmagar da rosa, para subtrair o néctar precioso da eternidade e fazê-lo fluir aos homens através da inspiração.

E me vou pelos campos afora, floridos, ricos, molhados pela recente chuva, que deflagrou o abrir das flores, numa explosão de contentamento e regozijo. Nas estradas de barro, caminhando sem destino, aspirando o aroma da mata nativa. Coelhos correm saltitantes como os saltimbancos; borboletas beijam flores, namorando-as. O sol brilha febril de luz oferecer, e aos poucos circunvaga a terra, ao estilo de Fernão de Magalhães.

O dia finda, assim como esta poesia. Um sonho bom de verão. Uma saudade que é bem-vinda!