Imprevisível - Primeiro encontro
Eu sentia falta de viver em liberdade de espírito, nada que fosse assim tão difícil de se imaginar, apenas romper um pouco a rotina de ter que saber extamente o que vai acontecer e como vai acontecer, ou a forma sonolenta e preguiçosa como o sol irá se pôr... não, não, nada disso. Estava precisando andar sem rumo! O cansaço e as perdições das noites eu já sabia como eram, só regras e mais regras para garantir o que já não queria mais e depois disso quebrá-las e sentir o gosto de não ser (obrigado papai) igual a todos. Estava mesmo precisando andar sem rumo.
Às vezes, como diz um amigo que eu não conheço, a vida se mostra sagacíssima, e é verdade, noite passada eu vi essa sagacidade toda...
... Caminhamos bastante sob uma lua com um brilho diferente. Ouvi alguns de seus problemas e por um instante eu quase garanti que nas horas seguintes eles seriam só mais alguns problemas e que cairiam frios na própria insignificância de suas existências. E foi o que aconteceu - o vinho ajudou. Ela estava linda. Imprevisível era seu sobrenome, me detenho a expor somente este detalhe, aqui não cabe identificar precisamente nossas identidades, que aliás me faz lembrar a cara do policial quando alguns de nós (erámos cinco àquela altura) dissemos estar sem documentos, foi ilário, aí o policial disse, "Então vocês não existem, vocês não são ninguém... blá blá blá, ah e blá blá blá... podem ir". Isso foi cômico. Mas voltando ao assunto, imprevisível, isso sim era uma coisa boa. Quando os outros foram embora, ficamos nós dois, a grama, o vento e a imprevisibilidade. E depois de tanto olhar nos olhos e ver mais do que beleza, depois de apreciar cada sorriso e sentir o calor de suas mãos, eu pedi um beijo. "E precisa pedir?" Ela perguntou num tom de quase mistério. Não havia enigma mais fácil de resolver, dei-lhe um beijo...
Liberdade, ar livre, desejo e imprevisibilidade, combinação perfeita em uma noite de lua cheia. Voltei pra casa com o seu gosto e o seu cheiro. Sonhei com ela.