Leonardo

Flen, 05 de agosto de 2009 (Sverige)

Leleco,

Hoje é seu aniversário, você está completando seis anos de idade.

Hoje você poderia ler esta carta da vovó todinha, palavra por palavra, mas você ainda não poderia interpretar o que a vovó deseja lhe falar.

Quando liguei pela manhã para cumprimentá-lo, você logo já foi me dizendo que hoje é cinco de agosto. Nós rimos juntos e eu cantei para você a musiquinha: "Brilha, brilha estrelinha. Brilha lá e no céu", e ainda completei que você brilha no meu coracão.

Leo, hoje no dia do seu aniversário, vovó abriu os meus emails e a maioria deles falam da gripe suína, suina influenza,gripe do porco.

Existe muitas coisas para se preocupar neste momento, mas a mídia está toda voltada para esta influenza.

Vovó acredita que isso seja para dispersar a atencão mundial de alguma coisa significante ou ainda acredito em laboratórios vendendo esta imagem para poder enriquecer com a venda de remédios, mesmo sendo divulgado para não se tomar remédios a populacão ainda busca a auto medicacão e o que é triste que aqui onde a vovó está não é diferente, a auto medicacão é desmedida num país de primeiro mundo.

Chego a pensar que as pessoas se auto medicam no intuito de curar não só as doencas físicas, mas doencas da alma, vivemos hoje um mundo de medo, ansiedade, depressão, doencas novas a cada dia surgindo, transicão planetária.

Quando a vovó tinha sua idade, eu morava na fazenda e a vovó só tomava chás caseiros, minha avó tinha uma infinidade de plantas que curam, talvez seja por isso que vovó não toma remédios e busca a auto cura.

Você é um garoto que teve o privilégio de nascer em família, que possa lhe proporcionar uma educacão diferenciada de muitos brasileiros, porque neste momento enquanto você ganha brinquedos, roupas, sua mãe prepara o seu bolo de aniversário, você recebe ligacões, cartão postal como você gosta de receber da vovó. Muitas criancas estão nas ruas em semâforos vendendo balas, pedindo uma "moedinha" ou até mesmo olhando carros para poder ajudar no seu próprio sustento, e quem sabe até é aniversário de umas delas e elas nem sabem disto?

Tem algo mais triste do que isso, existem criancas na sua idade que sofrem violências da sociedade por discrimicão e da própria família por desestrutura financeira onde cada um quer garantir o seu próprio sustento.

Você pode ler combinacões de letras e estas criancas ainda novas podem ler apenas o ódio estampado no olhos das pessoas que as discriminam, podem ler nos olhos das pessoas chamando-as de "bandidos", rotulando e tirando os sonhos de fantasiar uma vida.

A fantasia que você construiu quando a vovó lia para você a historinha dos Três Porquinhos, a história do Chapeuzinho Vermelho, entre outras...filmes infantis que assistimos juntos.

Estas criancas só podem assistir a própria violência, de vermelho a única coisa que elas poderam conhecer são cenas de sangue que correm em suas mentes das lembrancas de crimes vistos.

Nossas caixas de mensagens são bombardeadas de mensagens encorajadoras, quem as envia nem sempre lê e interpreta e se interpreta chora no momento.

Meu neto como é possível alguém num momento chora com um email e no mesmo segundo passando por cima de alguém tentando consquistar uma posicão de trabalho que lhe garanta "chegar primeiro".

Por falar em chegar primeiro vovó recebeu estas semana um email onde um homem com olhar sem esperanca e fé na vida, olha para uma corrida que acontece num parque. A medida que essas criancas se aproximavam ele e nós leitores podia perceber que eram criancas com deficiência física nas pernas. Um garoto que não usava muletas estava quase na frente, mas ele não tinha os pés alinhados e tropecou no próprio pé, ele gritou de dor e chamou por sua mãe, seus companheiros escutaram, olharam e retornaram e o carregaram e todos chegaram juntos, abracados.

Vovó chorou muito.

Eu desejei que a vida fosse assim para todos, afinal estamos neste mundo não para provar nada para ninguém a não ser para nós mesmos.

Que bom meu neto, seria se todos pudessem chegar juntos, porque não viemos aqui para disputar mas para amarmos e chegarmos juntos.

Leo a vovó tem muitas coisas para lhe mostrar para lhe dizer, eu poderia lhe escrever que você é um garoto sensacional, brilhante, mas quero deixar registrado o aconteciemnto histórico de cada fase de sua vida. Quando você ler isto, talvez já será um adulto e quem sabe poderá lembrar o quanto nossa família é(era) feliz, que temos várias coisas que muitos gostaria de ter. Nós temos saúde, felicidade, amor, compreensão, não temos muito dinheiro não, mas talvez isto seja a diferenca porque estamos sempre um ajudando o outro, mantendo o calor da família.

Vovó não sabe muito dos meus ascentes antes de meus avós, mas sei que dos meus avós para cá, nossa família zela pela integridade moral e honestidade.

Vovò deseja o mesmo para os meus descendentes,e quero acrescentar nesta visão familiar - não esqueca nunca meu filho, primeiro você pensa em você: cuide de sua saúde, cuide de seus dentes, cuide de sua higiene, de sua alimentacão saudável, seja honesto com seus princípios, seja feliz buscando a felicidade no seio familiar, fidelidade sempre.

Filho nunca deixe de olhar para outra pessoa como ser humano, seja ele negro, banco, pobre, rico(porque existem muitos ricos dignos de piedade), não olhe religião, não olhe a cultura pelo contrário respeite a cultura dos outros, olhe para as pessoas com olhos do coracão, olhe para as pessoas com amor. E quando isto for díficil tente se colocar no lugar delas e pense o que você faria se fosse elas.

Espero a cada ano te escrever algum fato histórico onde você possa um dia fazer um paralelo em sua vida, isso será possível pela net, mas uma carta familiar é mais emocionante.

Parabéns pelo aniversário hoje e que você possa ser feliz sempre.

Vovó Gisa

gisaonline
Enviado por gisaonline em 05/08/2009
Reeditado em 05/08/2009
Código do texto: T1738045
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