Da despedida

É hora de partir. Já está tarde mesmo. A aurora se demorou no horizonte, mas agora as sombras invadem o meu quarto. Sim, estou muito cansado. As horas, os dias, o tempo todo consumindo o tempo para continuar vivendo.

Estou mesmo um pouco atrasado, mas não há problema se eu me despedir. Peço desculpas, me desfaço em atalhos para explicar minhas (tantas) falhas, minha ausência (até mesmo um pouco desejada), meus erros (inclusive os que não tive intenção).

Espero que aceite-as com sinceridade, pois, de fato, é o pouco que me restou de tudo que tenho (ou tive, já não sei mais), do pouco que fui (ou serei, não me entendo por inteiro).

Já está tarde mesmo, as luzes se apagaram. As noites tomaram o meu corpo. Há muito é tempo de me desfazer. Sim, me desfazer. Esse navio partiu. Eu continuo aqui, observando a vida consumindo vidas para continuar vivendo.