Carta aos familiares I

             
           
de Edson Gonçalves Ferreira

            para minha família
                   e meus amigos do Recanto




                São dia 31 de julho de 2009 e, hoje, minha gente, aqui em Portugal, no Porto, onde nasceu nosso avô Joaquim Francisco Ferreira que, no Brasil, passou a assinar Joaquim José Ferreira (o Bigode) e nossa Tia Henriqueta Ferreira, estou hospedado na casa do amoroso e venturoso casal Miguel e Malubarni que, como mamãe o fazia, me recebeu nestes dezoito dias de aventura encantada.
                 Saio, agora, com o poeta Zé Albano que vem de Celorico da Beira, o Portugal Profunndo e, neste momento, queridos e queridas, dirigimo-nos para o Concelho de Manhouce, Freguesia de São Pedro do Sul, Distrito de Viseu. Em Manhouce, no Sítio dos Carregais, nasceu nosso avô Manoel Gomes Gonçalves e o tio José Gomes Gonçalves, filhos de Custódio e Anna Rita Gonçalves.
                  Agora, já estou nas estrads seculares, gravadas nas montanhas ancestrais. São encrustradas como jóias, porquedo alto delas, vejo as florestas encantadas onde o menino Manoel brincava e trabalhava. Estou sufocado de lágrimas. Engulo cada uma, porque um homem não chora berra e não posso dar esse vexame. As lágrimas, porém descem, como desceram ao lado do túmulo de Lúcia, em Fátima.
                    Entro, neste momento, em Manhouce. Agora, estamos no meio das casas feito de pedras e enfeitadas por parreiras e flores. As mulheres se vestem, tradicionalmente, principalmente as viúvas todas de negro e lenços nos cabelos, assim como o faziam no tempo do vovô. E, neste momento, meus irmãos, irmãs e sobrinhas, nossa mãe reaparece transfigurada na figura da Custódia, dona de um café e explico a ela o meu olhar apaixonado.
                     De repente, percebo uma mulher linda, de echarpe no pescoço, olhos verdes e, então percebo que é a cantadeira Isabel Gomes Silvestre. Ela, reconhecendo-me, porque o poeta Zé Albano já lhe passara dados tudo sobre as nossas raízes, abre um sorriso e nos beijamos e nos abraçamos. O amor familiar surge de nossa prima desconhecida até então. A conversa corre solta, tomamas café e Dra. Maria Luiza, de Manhouce, chega.Somos apresentados a ela e, logo, estamos a cantar: eu e a prima Isabel que, inclusive, já cantou no Lincoln Center, em New York.
                      Dirigimo-nos, agora, para um restaurante. Ele está repleto de habitantes de Manhouce e, assim que entramos, recebo olhares não de espanto, todos já sabem que é um descendente, "professore" que retorna a casa. Servem-nos bacalhau, batas, saladas, vinho, pão e água fresca. A emoção é tamanha que quase sufoco. Isabel chama um gajo (moço) que tem a cara do vovô Manoel  diz: _ Abrace o teu primo, Custódio! O gajo me olha e me cumprimenta e ela explica a ele a nossa linhagem. Ele é filho de Maria Rita Gonçalves e, também, mora perto do Sítio dos Carregais onde vovô Manoel nasceu. Ele conversa conosco e, depois, pede desculpas e vai trabalhar nas florestas que enfeitam as montanhas e vales.
                      Estamos, neste momento, dirigindo-nos à casa de Isabel. Toda de pedra, com uma fonte de água potável do lado da escada encantada e florida. Entamos na sala e, de lá, vejo, novamente, outra paisagem de Manhouce. Ela cruzou o tradicional com o moderno e, de sua sala,com janelões de vidro, os vales e as montnhas são lindos. E Isabel busca livros, cd e dvd seus e nos presenteia. Entrego a ela o meu livro "Chupando caquis". Ela coloca a sua casa a minha disposição. Insiste para que eu fique pelo menos uma semana com ela. Explico que não posso e, em seguida, interpreto para ela "Lua Branca" e "É a ti, flor do céu", canções típicas de Minas Gerais. Aí mesmo que ela não quer que eu parta.
                       Antes de nos despedir, ela nos oferece vinho do porto e celebramos, então, o reencontro da famíli, pensando em como o vovô partiu daqui, há quase dois séculos, com quinze anos de amor! A coragem dele, onde conseguiu transporte e dinheiro, aí vovô, ai!... Isabel e eu nos abraçamos e, em seguida, o poeta cavalheiro Zé Albano, responsável por essa parte da viagem, me conduz para o carro. E ao sair de Manouhece, meu coração estraçalha-se.
                         Sim, sinto um elo forte ligando nós, no Brasil a aquele Concelho de Viseu.As senhouras me trataram por "professore" e os homens também. Parecia que eu era o menino de sua terra, duzentos anos quase, depois, voltando... Agora, levo endereço, telefone para segurar os laços e Isabel fará o contato com o resto da família. Quão bela essa viagem, aguardem a carta continuação, beijos, Edson.
edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 02/08/2009
Reeditado em 21/06/2012
Código do texto: T1732719
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