EU NÃO TE QUERO
 
Imaruí, SC, julho de 2009
 
 
Senhora Minha Amada,
 
 
Minha linda senhora, hoje, eu quero te confessar que com esse meu amor torto, eu tenho medo de te criar dúvidas, pois é não te querendo, que eu sinto que te quero.
Eu sei que estou atropelando Pablo Neruda, mas hoje ele que me perdoe, pois vou deliberadamente cometer uma tênue sombra de plágio.
Na verdade, eu acho que não é um plagiato, mas sim, trata-se de um ousado desdobramento, uma fonte de inspiração, ou talvez, uma busca tresloucada com variantes novas e uma direção exclusiva que desejei e achei em um de seus poemas.
Senhora minha amada, essa tortuosidade de sentimento que confusamente chega a querer-te e a não te querer, simplesmente é o resultado da embriaguez provocada pelo absinto grande desse amor.
Às vezes, minha linda senhora, eu fico horas te esperando, quando na verdade eu não te espero, e assim, o meu coração que era sossegado, se transmuda de uma suposta serenidade, para um sufoco abafado cheio de murmúrios provocados pelo fogo do teu amor.
É muito coerente, minha senhora amada, mas pode não ser racional o fato de que, eu te querendo porque somente a ti eu quero, pois tu te transformaste no meu sonhado caminho, a minha direção exclusiva e certa.
Tu és o meu norte verdadeiro.
O meu setentrião grávido de sonhos.
Minha senhora amada, o amor e o ódio, evidentemente, são dois opostos que andam sempre juntos, digamos assim, elétrons e prótons no campo de forças do amor.
E assim, minha linda senhora, com essa proximidade de dois elementos opostos e, nesse campo de forças incoercíveis, eu cheguei a te odiar e descobri que foi te odiando que me propus a te amar.
Meu Deus! Como o amor é incompreensível, por isso é que sempre afirmo que incompreensivelmente te amo.
Esse nosso amor que foi nascido à distância e conformado na medida dos nossos amores, e que sem ao menos ver-te, agora humildemente confesso que sempre te amei como um cego.
Na primavera, essa estação que acabou de passar por nós, a luz do nosso amor quase foi consumida, por ser um amor incompreensível, um raio cruel quase transfixou os nossos corações por inteiro.
Hoje, eu te confesso que naquela época do quase quente outubro, roubaram-me ou quase perdi a chave do meu sossego: o teu amor, que abria para mim todas as portas da vida.
Naquele desencontro, eu não te odiei, pois ficou configurado para mim que simplesmente eu te amava, e que se ficasse sem o teu sorriso eu morreria.
Agora minha linda e amada senhora, morrerei de amor, porque nessa confusão de sentimentos opostos e na inconstância do querer e do não te querer, eu descobri que te quero e amo a sangue e ao fogo que dorme em teus lindos olhos.
Minha deusa, inexplicavelmente e incompreensivelmente eu te amo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 29/07/2009
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