Aval
O que vou te dar agora meu amor, não é nem mel e nem mal. Quero te entregar o que mais de aterrador há em mim.
Preciso entregar meu medo, porque é o mais humano e mais racional que de mim emana.
Quero que você conheça minhas noites de terror mais absoluto, aquelas nas quais não dormi porque não havia sequer uma mão desconhecida que segurasse na minha, ou uma voz que eu nunca escutei para me dizer: -Dorme! Adormece que estarei aqui ao seu lado e se você partir, ficarei como testemunha de ti.
A finalidade de fato não assusta, mas transpor o limite é assustador pela total incerteza do que há.
Se apenas um minuto você tivesse segurado minha mão e feito sentir-me em paz, talvez voltar não estaria sendo tão doloroso, tão formidável.
Sei que depois de tudo concluído é fácil que me venha teu querer, que este desejo não se contaminou com a vida que de mim jorrou.
Não te culpo, não te cobro, apenas estou te dando, doando cada gota de todo o tempo em que me entrevi dentre trevas, e se te dou assim meu susto é por amor. Voltar lá e resgatar-me é preciso e precioso que haja amor por você.
Você pode de alguma forma vislumbrar, como num mar revolto, o perigo que estou correndo agora? Sei que não e te juro que assim prefiro.
Dizer que hoje não preciso que você me proteja de mim mesma, é negar todas as minhas verdades.
Desnuda de todas fantasias te falo: segura minha mão porque estou assustada demais com a vida.