Para Minha Amada Marília...
As folhas que levemente aterrisavam, testemunhas mudas de meu embaraço.
Com dúvidas que atormentavam minha alma, pulsando freneticamente.
Eis que o silêncio, não mais que um momento, suficiente para afligir...
quebra-se perante as chamas que ardiam progressivamente.
No brilho de teus olhos vacilo um instante...
então calo tua boca macia... e minha ânsia dissipa lentamente.
No começo encontro as melhores lembranças, daquele tempo
momento infindável do qual sou reles escravo.
O abraço, o olhar, o beijo hesitante...
Sublimava meus sentidos em cada passo que descobria.
Ao teu lado era completo e me sentia livre,
não existiam barreiras, e nossos sentimentos cantavam em uníssono.
E a cada dia que tu me deixavas, ironicamente me perguntava...
seria verdade... ou sonho? A minha mente me contradizia,
e em minha loucura, imaginava se tu não eras uma mera miragem...
criada pela volição de minha infindável solidão.
E eis que cada dia eu acordava só para ti, para te ver, por um beijo...
percebi então que não podia te amar sem estar em contradição.
Incoerência essa que nunca havia tocado meu coração,
visto que, ao teu lado, me sentia nas estrelas, em plenitude...
achando que era impossível te gostar mais ou superar tal estado,
mas cada vez contigo, era único, e cheguei ao ponto confuso,
onde as palavras não conseguiam mais alcançar, aquilo que eu sentia. Então,
morrendo e renascendo, meu amor não crescia ou diminuia, simplesmente existia.
Chamo de amor isso que não possui nome, talvez uma simples ilusão.
Dessas que todo mundo sente, de maneira diferente, mas ninguém explica...
tentei por várias vezes provar a ti, o que eu sentia. Mas o melhor...
era sentir a tua retribuição, o que me deixava enebriado de êxtase.
No entanto, de tão cego que estava, perdi-me naquele dia funesto,
em que a menção de te perder me rendia desesperado, pela minha própria culpa.
E então tudo desmoronou, como castelos de areia levados pela brisa...
por ordens de outrem, tu se distancias... mais e mais...
Minhas esperanças vão esmorecendo, e novamente me inundo de dúvidas.
"Seria realidade... ou sonho o que passou?"
E então a solidão, companheira de longa data, voltava com sua bagagem.
Dessa vez mais pesada, acinzentando o passado cheio de cor.
Tentamos em vão, lutar contra o muro que se impõe...
ambos fracos e impotentes, perante a mão autoritária.
Eu insisto mesmo perante a derrota, fraquejando até no pensamento
me pergunto se tudo que me disseste, não passou de patranha...
pois não compreendia, porque me deixavas sozinho, sem revidar.
Duvidei de teu amor, e até do meu... amargando meu ser até as entranhas.
Por muitas vezes, ensaiei em pensamento esquecer-te,
seguir em frente, procurar outra amada... eu realmente pensei...
mas, nada nem ninguém, conseguia superar a imagem latente,
imagem tua impressa em minha memória, tu que és minha deusa.
Sofri com a espera, e com a nossa promessa... pois ao menos,
voltastes para aliviar meu sofrimento, com tuas palavras sinceras.
Por muitas noites, e em boa parte dos meus dias lentos...
onde os ponteiros se arrastavam, consumido pelo tempo,
tua presença vinha à tona em meu ser, e me perdia sorrindo,
com um prolongado suspiro. A violação de meus sentidos era tamanha,
que até mesmo teu cheiro pairava ante os meus olhos semicerrados,
e era como se num passe de mágica, estivesses ao meu lado.
Contudo a imensurável solidão sempre me abraçava com suas asas negras,
e eu procurava meus sentimentos no calabouço do desespero...
e ao ponto de ser tragado, com teus encantos divinos, tu me aparece.
Paralisado, parvo... não creio na imagem de meus olhos, mas no fim
a alegria inunda-me como um raio de sol na penumbra, à visão de teu sorriso.
Procuro me acalmar, mas o momento eterno, me rende indefeso...
Minhas dúvidas são dissipadas... e no âmago de meu ser, cresce a certeza...
eu simplesmente te amo Marília, e jamais poderia descrever este sentimento,
és a única e eterna, a amada de minha poesia...
e mesmo que não me fosse possível encontrar-te,
outra eu jamais queria.