A carta que não mandei

Oiii Amor, como vai você? Eu vou bem, obrigado! Sei que você não tem recebido minhas letras, nem meus e-mails, nem os tímidos sinais de fumaça que sempre mando. Os ventos vindos do norte têm levado minhas mensagens para o fundo do oceano que agora desanda dentro de mim.

Às vezes tenho vontade de sair por aí e contar pra todo mundo que você existe, que você é uma mulher de carne e osso, que você se parece com a Estátua da Liberdade. Mas com certeza vão dizer que sou maluco, que ando inventando coisas só pra dizer que te adoro. O Amor é assim mesmo, uma bagunça generalizada: quando não me aperta o peito, espanca meus sentimentos. É preciso compreendê-lo para suportar o ano-luz que nos separa, é preciso senti-lo para que a bagunça se torne algo eventual e passageiro.

Há momentos em que as imagens dos nossos encontros vão se formando em minha memória: ora como estruturas de concreto, ora como pedras de gelo que vão se desfazendo em rios de água doce. Imagens que são registradas como fotografias, retratos que guardo nas gavetas do meu coração. Quando a saudade me chama, esses instantes de felicidade são vistos e revistos, mil vezes por segundo.

Já tentei sair de dentro de minha própria essência, já esperei demais, já formulei teoremas demais e não encontrei respostas para as minhas perguntas. Por enquanto ainda consigo decifrar as origens de tamanha extensão, mas a cada momento ela se torna mais e mais esquisita. Se você não vier tirar-me desta lonjura, mesmo que ocorra uma discussão ou briga, certamente me tornarei um beija-flor órfão de amores e desejos. Ainda assim, haveremos de nos encontrar um dia, só nós dois, mesmo que na noite mais escura e fria.

Beijos, beijos e mais beijos,

Pedro, seu fã.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 06/06/2006
Reeditado em 05/12/2022
Código do texto: T170301
Classificação de conteúdo: seguro