post escriptum
um anagrama como uma saudade. porque na bagunça do quarto, no vazio nunca visto ainda há um nome. a noite escura e o silêncio grande. a noite alta. a noite dorme. e o vento traz de longe uma canção desesperada.
...
e pode ser que talvez ela apenas não possa dormir antes de cansar todas as palavas e gastar o silêncio escorregadio do quarto.
talvez ela nunca consiga dormir até esperar. o nascer e morrer das horas do silêncio amargo da distância. e mesmo que ela pense nas segundas que virão. ainda assim. esperará. ouvirá todas as Beatles'songs. revisará todas as páginas. olhará a janela incontáveis vezes. adiará o banho. e mesmo que nela só o silêncio caiba bem. essa roupa amarrotada e áspera. seguirá abrindo todas as portas. levando os olhos pelo vazio do quarto. revistando todas as gavetas. pintaria todas as paredes se não fosse tarde. porque esse silêncio é tarde. porque a distância arde. e na pele fria revive os cheiros e passados. faz promessas a si mesma que será a última vez. que não morrerá. e que, assim que possível, arrumará a bagunça do corpo. estenderá as roupas – vou comprar vasos pras flores. apagará a luz. a lista de música terminou. mais uma vez. terminou o dia. a hora. o refrão. e no silêncio dissolvido no quarto a janela permanece aberta.