O ENCONTRO: UMA DECLARAÇÃO DE AMOR ETERNO E IMPOSSÍVEL

Minha Andorinha Sinhá,

Fiquei a observá-la enquanto fazia compras no supermercado. Pegava um produto, examinava-o e o depositava no carrinho. Às vezes, uma mercadoria chamava-lhe a atenção mais do que outras e então se detinha a examiná-la com aquele tipo de cuidado que um joalheiro dispensa a uma peça fina.

Lembrei-me de um tempo em que a hoje dona de casa, mãe e já avó era uma jovem risonha, brincalhona, irrequieta, com muitos sonhos para sua vida, e ainda muitos outros latentes dentro de si, pois era teimosa na perseguição de seus sonhos.

Fisicamente não mudara quase nada ... A mesma postura desempenada e altiva, o mesmo andar faceiro e o rosto, embora apresentasse algumas marcas do tempo, por sinal, lindas, ainda conservava traços bem vivos de uma bela adolescente que eu conhecera.

Em outro momento, já pudera admirá-la, há muito tempo, num momento seu de grande beleza. Estava em companhia de seus filhos e de seu marido (hoje, ex-marido), sentados em torno da mesinha de uma palhoça à beira-mar. Era uma manhã de verão. As ondas da maré iam e vinham, como se estivessem embalando aquele momento invejavelmente familiar.

Ela vestia um biquine azul turquesa que mostrava com generosidade suas torneadas pernas. Os olhos esverdeados claros irradiavam uma luz viva que superava a do sol por mais que ele se esforçasse em brilhar para não perder aquela competição. O riso franco, quase inocente era realçado por uma cor de batom que contrastava com a linha de seu rosto que parecia haver sido esculpido com capricho de artista.

Nunca lhe parecera tão bonita como naquela manhã! ...

Finda as compras, você se dirigiu para o estacionamento, empurrando o carrinho. Senti vontade de oferecer-me para ajudá-la. Mas não o fiz. Algo me manteve preso no lugar de onde pudera observá-la por quase uma hora sem que fosse notado. Por que essa inércia? Seria receio de ver novamente, face a face, passados tantos anos, aquela que exercera sobre mim, grande fascínio e grande império? Talvez fosse. Não sabia...

Você acomodou as compras na mala do carro, deu partida e foi embora, deixando atrás de si um rastro de lembranças que eu pensava já terem sido diluídas pela água forte do tempo.

Seu ... para sempre .. Gato Malhado

Laura Leal
Enviado por Laura Leal em 09/07/2009
Reeditado em 09/07/2009
Código do texto: T1690071